Incerteza, capital externo e taxa de câmbio 

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Com poucos intervalos de alívio nos últimos quatro anos, a moeda brasileira tem ficado próxima dos R$ 4, nível não visto desde a implementação do Plano Real. Toda a instabilidade pela qual o Brasil vem passando desde o início da crise político-econômica em 2013/2014 influencia o capital estrangeiro em território nacional. O impacto foi tão forte que, em 2015, o país liderava o ranking de fuga de capital estrangeiro entre os emergentes, e, à época, o dólar beirava os R$ 4. A situação, atualmente, não é tão melhor. Embora haja aqueles otimistas com a agenda de reformas que o governo Bolsonaro propôs, muitos vetores caminham em direção diferente de uma eventual queda no preço do dólar, vários deles ligados ao ambiente de insegurança ao qual o mundo está submetido, o que diminui o apetite por risco do investidor internacional, que prefere refugiar-se em ativos mais seguros como o ouro e outras pedras preciosas.

 Estados Unidos e China se veem em uma guerra comercial tão avassaladora que foi responsável por retardar o desenvolvimento global. Não obstante, um índice recentemente criado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), chamado Índice de Incerteza do Comércio Mundial (WTU, sigla em inglês), indica que os níveis de incerteza no comércio do planeta escalaram à uma altitude que supera o patamar alcançado nas grandes catástrofes econômicas recentes, como a crise asiática em 1996 e os eventos ocorridos em 2008/2009. Todas essas são péssimas notícias para um emergente sedento por capital externo como o Brasil.

Não bastasse isso, a Europa também afeta a preocupação dos investidores internacionais. Uma das grandes potências europeias, o Reino Unido declarou seus motivos e intenções de se retirar da União Europeia, iniciando, tempos atrás, um processo longo que pôs à prova a famosa pontualidade britânica. Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido que iniciou o processo do Brexit, tentou, no parlamento britânico, um consenso entre os parlamentares acerca do acordo de saída. Ela estava ciente das projeções que diziam que o PIB do Reino Unido poderia ter perdas de incríveis 5%. O novo premiê inglês, Boris Johnson, parece um pouco mais radical que sua antecessora. Johnson avisou, em sua posse, que seria responsável pelo Brexit. Com ou sem acordo.

 O fim do chamado “boom das commodities”, entre 2002 e 2011, foi outro fator negativo para a atual situação cambial do Brasil. Com a desaceleração da China e, consequentemente, uma diminuição na demanda por commodities agrícolas, um fluxo menor de capital externo passou a ingressar em território nacional, movimentando negativamente a razão que rege a taxa de câmbio. 

Felizmente, nem tudo são más notícias. Certos esforços na agenda nacional podem alegrar aqueles que almejam um câmbio mais confortável. A descoberta de um estoque considerável de petróleo circulando a área do pré-sal deu origem à chamada “cessão onerosa do pré-sal”. Deu, também, origem a um megaleilão que atraiu várias gigantes do setor, como Shell, Qatar Petroleum e outros pesos-pesados da área. O governo espera arrecadar R$ 106,5 bilhões com o leilão de quatro áreas.

Adicionalmente, a equipe econômica do governo Bolsonaro tem feito boas apresentações nos últimos tempos para atrair capital externo para o país. Em seu último tour, Jair Bolsonaro visitou um punhado de países europeus e alinhou um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a EFTA (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein), 9º maior ator comercial do mundo. A equipe do presidente também conseguiu fechar acordos de exportação de carne e farelo de algodão com a China, e atrair US$ 10 bilhões em investimento da Arábia Saudita. Além, claro, do tão esperado e debatido acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. 

Por fim, em sincronia com o Banco Central do Brasil, o Federal Reserve Bank (Fed) – autoridade monetária norte-americana – decidiu por diminuir sua taxa de juros em um quarto de ponto percentual. Geralmente, esse tipo de resultado é bom para emergentes – principalmente para aqueles que apresentam inclinações a uma boa agenda de reformas, como o Brasil está fazendo – porque faz com que o investidor externo sinta-se mais livre para tomar riscos.

Sob essa análise cabe, portanto, entender que, embora o Brasil esteja sendo guiado por uma agenda econômica minimamente adequada, com salva-vidas fiscais e inclinação à melhora da eficiência da economia, os vetores que se contrapõem a uma apreciação da moeda brasileira são intensos o suficiente para impedir que isso aconteça.

cemec

Autor: Raí Oliveira 

 

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