Se você tivesse R$ 40 mil, o que faria com o dinheiro?
Consultora de investimentos da Órama.
Depois de uma semana conversando com diversos públicos sobre como equilibrar receitas e despesas e escolher investimentos para realizar sonhos e desejos, me deparo com um estudo da Route Automotive, empresa de pesquisa especializada no setor automotivo, com jovens de 18 a 24 anos. Os resultados encontrados ratificam que essa geração está mais preocupada com o futuro e com a situação econômica e financeira do que com o ato de consumir (coluna assinada por Marli Olmos, no Valor Econômico, em 25/09/2019).
Respondendo à pergunta “se você tivesse R$ 40 mil hoje, o que escolheria fazer com o dinheiro?”, o maior percentual, com larga vantagem, 33% escolheu investir o dinheiro. Em seguida, 16% pagariam dívidas próprias ou da família e só 14% comprariam um carro.
As respostas são condizentes com o comportamento da geração Z, dos nativos digitais, que nasceram no contexto de redes sociais, mobilidade e economia compartilhada. Desapegados do material – o que explica o sucesso do Uber, do Netflix e do Spotify — eles já entendem a importância de ter uma reserva e eliminar as dívidas. É o que indica a pesquisa.
Aproveitando a tecnologia e a evolução do mercado financeiro, não é preciso esperar amealhar R$ 40 mil para começar a investir. É possível começar com apenas R$ 36, o preço de uma pizza, comprando uma fração de título do Tesouro com remuneração prefixada, ou seja, que tem a rentabilidade conhecida no momento da aquisição.
Com R$ 100, R$ 500 ou R$ 1.000, há centenas de opções para aplicar o dinheiro e colocá-lo para trabalhar, de forma a conseguir acumular recursos e rentabilizar o capital para alcançar outros desejos citados também na pesquisa, como fazer curso de aperfeiçoamento, mestrado ou doutorado, intercâmbio no exterior e viagens. Há, inclusive, a possibilidade de se investir em bitcoins e moedas digitais, através de fundos de investimentos autorizados pela CVM, órgão regulador da indústria de fundos.
Mas, mesmo diante de tantas opções, escuto de muitos jovens que o medo de perder, a insegurança por falta de conhecimento e a desconfiança do mercado financeiro são as principais barreiras que enfrentam para adentrar nesse novo mundo. A falta de conhecimento é definitivamente um obstáculo, mas esperar até assimilar todos os conceitos da área pode significar deixar muito dinheiro na mesa. Não precisa ser PhD para fazer aplicações financeiras.
A estrutura e a dinâmica do Sistema Financeiro Nacional (SFN), composto por instituições e entidades com missões bem definidas, são robustas, bem azeitadas e já possuem um longo histórico de bom funcionamento. O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão superior e determina as regras dos mercados monetário, de crédito, de capitais e cambial. Dessa forma, coordena a política macroeconômica do governo federal, definindo a meta da inflação, as diretrizes para o câmbio e as normas para as atividades das instituições financeiras.
O Banco Central (BC) executa as determinações do Conselho Monetário. Já a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem suas atividades definidas em lei. Além de regular e fiscalizar o mercado de capitais, também possui a missão de proteger o investidor.
Ainda existe a Anbima, para dar suporte como autorregulador. A associação de bancos, gestoras, corretoras, distribuidoras e administradoras possui a missão de fortalecer as entidades financeiras e fomentar o mercado de capitais para o desenvolvimento econômico e social. A entidade também realiza um trabalho extenso de educação financeira e é responsável pela certificação de agentes participantes do mercado.
Vencida a desconfiança do mercado financeiro, vamos ao “medo de perder”, uma das justificativas dos jovens que não investem. As possibilidades ou probabilidades de os retornos não se realizarem ou ficarem abaixo do esperado são mapeadas e hoje estão disponíveis nas mesmas redes por onde navega essa geração. Variações negativas em janelas de curto prazo ocorrem com frequência, e a decisão pela realização de prejuízos não é incomum, mas nada que o devido ajuste ou o tempo não se encarregue de recuperar no médio e longo prazos.
Quanto mais jovem se é, mais tempo há para recuperar os prejuízos financeiros e aprender com os erros. O tempo vai se encarregar de ensinar a diferença entre risco e incerteza, ou seja, entre o que é possível mensurar, e como utilizar instrumentos para mitigar, e o que não é. Os profissionais qualificados, certificados pelas instituições do Sistema Financeiro, também podem ajudar nessa jornada.
Para quem nasceu na era Google, a busca por informação sempre fez parte da rotina. Nada mais natural que usar essa vantagem para cuidar do próprio dinheiro, investindo de forma segura e inteligente. A educação financeira, nas redes ou fora delas, está cada vez mais presente na vida dos brasileiros e tem sua participação na mudança dos sonhos e desejos desses jovens.
Coluna originalmente publicada em 04/10 no portal Valor Investe
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