Ressurgimento da gigante do petróleo?
Na quarta-feira 21/08, as ações da Petrobras tiveram uma performance significativa. Os ativos preferenciais saltaram 8,20%, a R$ 25,99, enquanto as ordinárias avançaram 7,44%, a R$28,46 na máxima do dia, terminando o pregão com ganhos de 5,95%, a R$ 25,45, e 5,32%, a R$27,90 respectivamente. Sendo assim, o ótimo desempenho da ação fez com que a bolsa brasileira atingisse os 101.202 pontos, devido aos 10,6% de participação que as ordinárias e preferenciais têm no índice.
O acontecimento pode ser explicado através da pauta das privatizações que voltou a ser discutida durante a semana. Paulo Guedes, ministro da economia, declarou ao jornal Valor Econômico que planeja, até o final do mandato do presidente Jair Bolsonaro, a privatização da Petrobras. Em nota, informou ainda sobre a privatização de mais 17 estatais. Tal notícia parece ter dado gás ao mercado, que estava em um período de muita incerteza devido ao cenário econômico global.
Por outro lado, há motivos para que os investidores tenham cuidado em meio a toda essa euforia. Paulo Guedes não foi o único ministro do governo Bolsonaro a dar suas declarações. O ministro da casa civil, Onyx Lorenzoni, também recorreu aos meios de comunicação, onde declarou que a Petrobras ainda passaria por estudos criteriosos a fim de definir seu futuro, notícia que inquietou gestores e analistas de grandes instituições financeiras, que acreditam que a agenda de privatizações é fundamental para o aquecimento da economia.
Ainda assim, muitos ignoram a prerrogativa que as privatizações não são o único fator determinante sobre as ações da Petrobras, há de se levar em consideração a divulgação dos resultados referentes ao segundo trimestre de 2019. A empresa não superou a expectativa do mercado, apresentando um faturamento abaixo do esperado. Em contrapartida, o EBTIDA, também conhecido como LAJIDA, chegou próximo a sua expectativa. Esse indicador representa o ganho antes de serem descontados os juros, impostos, depreciação e amortização, ou seja, representa o quanto a empresa gera de recursos a partir de suas atividades operacionais.
Outro dado importante mostrado no resultado foi a produção de petróleo e gás da companhia. A mesma aumentou cerca de 4% em relação ao trimestre passado, porém registrou queda de 1% referente ao segundo trimestre de 2018. O declínio da produção pode ser explicado pela ociosidade produtiva dos campos de pré-sal e também por paradas de manutenção recorrentes no período, motivos que, por sua vez, ocasionaram o aumento das despesas operacionais no período. Apesar da queda de produção da companhia, a receita com vendas aumentou devido, principalmente, à elevação do preço internacional do petróleo, ao efeito cambial e aos reajustes de preços dos combustíveis que foram feitos praticamente diariamente.
Sendo assim, era de se esperar um desempenho precário da empresa, fato que não ocorreu, visto que a mesma apresentou um saldo positivo no valor de R$ 8,6 bilhões. O mesmo pode ser explicado pelo programa de desinvestimentos, que se tornou mais agressivo nos últimos meses. O programa tem como objetivo liquidar ativos improdutivos com a finalidade de gerar capital e reduzir o seu endividamento. Essa estratégia foi bem sucedida no segundo trimestre deste ano, visto que a partir da venda da TAG (Transporte de Gás Natural), concluída no final de julho, a liquidação da participação que a empresa possuía na BR Distribuidora e a venda de campos maduros de petróleo foram fatores cruciais para que a instituição apresentasse um resultado positivo no trimestre.
Em relação ao endividamento da companhia, a dívida bruta caiu para R$ 289 bilhões, 6% menor que trimestre anterior, e a dívida líquida ficou em R$ 321 bilhões, queda de 14% em relação ao trimestre anterior. Outro indicador importante que mede a qualidade da dívida da empresa é a relação dívida líquida/ebtida que decaiu de 3,19x para 2,69x. Para o futuro, a perspectiva é de que essa dívida diminua ainda mais, devido ao longo processo de desinvestimento, com a venda esperada de 4 refinarias já para o próximo trimestre.
Sobre a nova gestão da Petrobras, pode-se concluir que é esperada uma profunda transformação ao médio prazo, visto o foco no aumento da capacidade produtiva, principalmente em relação à produção de petróleo no pré-sal e águas profundas, devido ao elevado custo na extração do petróleo dessas áreas que, juntas, representam 88% dos custos de extração. Outro destaque da nova gestão seria a agressividade do programa de desinvestimentos, que até então foi fundamental para essa fase que Petrobras se encontra.
Por fim, conclui-se que, atualmente, o quadro geral da empresa se mostra positivo, porém, mesmo com todo o otimismo que permeia o mercado, é preciso ser realista quanto ao histórico da empresa. Nada é certo em relação a sua privatização, e a evolução do resultado é fruto dos desinvestimentos feitos pela companhia. Existe um risco considerável por trás de toda a euforia. Como já dizia Warren Buffet: ”A maioria das pessoas se interessa por ações quando todo mundo está interessado. O momento de interessar-se é quando ninguém mais se interessa. Não se ganha dinheiro comprando o que é popular”.
Matheus Assumpção
Membro de finanças do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.
Muito bom o comentário feito nesta análise, realista e bem apurado da situação atual da empresa perante a crise que o país atravessa ..