A guinada grega e os passos para sair do fundo do poço
Integrante da União Europeia, a Grécia se envolveu na segunda maior crise em um país desenvolvido, crise esta que a assombra há anos. Por causa disso, a nação adotou uma série de mudanças estruturais e econômicas, em conjunto com o FMI, que estão proporcionando desempenhos exemplares entre os integrantes da zona do euro. Com isso, está havendo uma retomada da economia do país, o que proporciona uma boa relação com a União Europeia.
A crise grega é decorrente de uma sequência de empréstimos, aumento da dívida externa do país, além de um abalo em seu sistema de arrecadação, problemas com corrupção e evasão fiscal e um aumento dos gastos públicos de forma descontrolada, cerca de 50% de alta entre os anos de 1999 e 2007.
A fim de solucionar essa situação, desde 2010, o FMI e a União Europeia vêm proporcionando apoio à nação. O primeiro pacote de ajuda financeira foi aprovado em maio de 2010. Na época, o governo grego recebeu 110 bilhões de euros de bancos privados.
Infelizmente, essa colaboração fez com que o Estado apenas se mantivesse, devido aos sérios problemas de arrecadação e ao déficit nas contas públicas, impedindo a recuperação econômica. Como reflexo, foi necessário outro empréstimo, no total de 240 bilhões de euros.
Em contrapartida, a Grécia teve que cumprir uma série de medidas de austeridade, como um drástico corte nos gastos públicos, reformas no sistema previdenciário e nas relações trabalhistas. Além disso, o governo impôs um aumento da carga tributária.
A taxa de desemprego chegou a 26%, e o PIB grego, que em seu auge chegou a US$ 384,5 bilhões, registrou uma grave queda, chegando a US$ 192,7 bilhões em 2016. Foi uma variação negativa de cerca de 50% de 2008 a 2016. Ademais, pairava a possibilidade de calote ao FMI, e uma relação complicada com a UE se iniciava.
Apesar de todos os auxílios prestados, a Grécia demorou a reagir positivamente. Além das medidas aplicadas, uma série de privatizações no ano de 2015 foi crucial. Apenas depois de 2016 o PIB voltou a mostrar um crescimento, que foi de 3,94% em 2017.
O principal motivo que impediu que a Grécia se desenvolvesse e retornasse ao crescimento – além das dívidas – foi o aumento da carga tributária, que reduziu o poder de compra da população e impediu a entrada de investimento no país.
Outro fator foram as políticas públicas com características populistas, que geraram novamente uma piora dos indicadores econômicos, com um aumento do desemprego e uma redução nos principais indicadores sociais, como o IDH.
Além da crise econômica, a crise social começava a se tornar um grande problema. A Grécia é uma porta de entrada para a Europa, assim como a Turquia, por conta de sua vasta costa para o Mar Mediterrâneo. Uma série de problemas relacionados à migração e à questão dos refugiados agravou o quadro.
No ano de 2018, devido a sua melhora do ponto de vista econômico, a Grécia fez um pedido para que as instituições atenuassem algumas exigências fiscais – o que não ocorreu. A taxa de desemprego do país está em 18%, seu menor índice desde 2011, apesar de continuar sendo a maior de toda a zona do euro.
O então primeiro ministro Aléxis Tsípras, com seus ideais de centro esquerda, quis novamente dar uma perspectiva social. Entretanto, o direcionamento causou estranheza ao olhar do bloco europeu e do FMI, gerando um grande descontentamento da população.
Como consequência, em 2019, nas eleições para primeiro ministro, Kyriakos Mitsotakis, principal membro da oposição, foi eleito o primeiro ministro grego, mudando a cara do governo. Kyriakos é do partido Nova Democracia, caracteriza-se por ser liberal na economia e conservador nos costumes.
A perspectiva atual com o novo governo é de mudança: Kyriakos busca cortar impostos e estimular o crescimento, além da maior abertura do país a novos capitais. Algumas opiniões mostram que o futuro pode não ser tão previsível. No cenário global, Kyriakos se mostrou a favor do dólar e pretende formar uma aliança com o presidente Donald Trump, a qual causaria novamente um estranhamento na União Europeia. Se tudo correr bem, em 2033 o país chegará no mesmo patamar que estava antes da crise.
João Baptista
Membro de Análise Macroeconômica do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.