O novo COPOM
A decisão do COPOM de manter a taxa SELIC em 14,25% ao ano, na reunião de julho, foi acertada. Apesar dos pequenos sinais de redução, a inflação medida pelo IPCA ainda permanece muito acima da meta, o que enseja prudência por parte da autoridade monetária. Todavia, há um consenso entre economistas que as taxas começarão um processo de queda. Resta saber a partir de quando e qual a intensidade.
A política econômica desses primeiros meses de governo interino de Michel Temer tem apontado para o resgate do tripé macroeconômico (câmbio flutuante, sistema de metas de inflação e política fiscal austera), erodida no período Dilma Rousseff. Por não ser tarefa simplória, penso que várias estratégias precisarão ser adotadas, sendo uma delas a nova forma de conduzir as reuniões do COPOM.
Nesse primeiro encontro do comitê de politica monetária sob a batuta do novo presidente, Ilan Goldfajn, já tivemos algumas diferenças em relação à gestão anterior, de Alexandre Tombini. A mais importante, a meu juízo, foi o modo de comunicação com o mercado. O professor Carlos Viana, da PUC-RJ (novo diretor de politica econômica), conduziu um importante estudo sobre de que forma o impacto da comunicação do banco central afeta as expectativas dos agentes econômicos, a famosa “curva futura de juros”. Em outras palavras, a credibilidade, nos dias atuais, é condição sine qua non para a eficácia da politica de juros.
Dessa forma, nessa reunião de agora, o comunicado divulgado no site da instituição, pós-decisão, já foi muito mais detalhado do que os de outrora, curtos e secos. Outra mudança que ocorrerá é a antecipação, em dois dias, da divulgação da ata da reunião, o que também ajuda a tirar a ansiedade do mercado.
Voltando à questão da queda da taxa, não tenho dúvidas que o processo iniciar-se-á ainda esse ano. Nossa aposta é que existem boas chances de uma redução de 250 pontos base já na próxima reunião do final de agosto, “startando” um ciclo que poderá levar a SELIC para 13% no final desse ano e, se tudo ocorrer como o esperado, a até 10,5%, no final de 2017. Esse quadro tem tudo para se confirmar, especialmente no caso do IPCA de alimentos confirmar uma trajetória cadente observado nas últimas semanas, uma vez que o choque de preços administrados já está no retrovisor. Foram eles, aliás, os grandes responsáveis pela manutenção da carestia acima de 10%.
Cabe frisar que para que esse cenário prevaleça, o processo de impeachment da presidente Dilma precisa se confirmar, no Congresso. Assim, o vice-presidente interino Michel Temer assumirá definitivamente a presidência, e a política fiscal sofrerá, de vez, a guinada necessária, tornando-se mais restritiva e (importante) célere, o que daria condições para que o COPOM reduza a taxa de juro com mais segurança. Adicionalmente, como a taxa de câmbio nos últimos meses se valorizou, dando uma trégua àquela brutal “puxada” do ano passado, os tradables poderão ajudar bastante. Ou seja, a inflação reagiria não somente à recessão, mas sim às expectativas de uma condução de política econômica mais comprometida com o ajuste fiscal, que se faz necessário.
Para finalizar, existem riscos à frente. O governo de Michel Temer, caso se confirme, tem desafios importantes junto ao Congresso e à sociedade. Precisará aprovar medidas absolutamente antipáticas, como a PEC do limite de gastos e a reforma da previdência. Sem elas, a tarefa de redução de juros será adiada (pelo menos em intensidade) o que atrasaria a recuperação da economia, que deverá voltar a crescer ano que vem.