Discutindo produtividade
No último fim de semana, o jornal O Globo publicou uma ótima entrevista, com um dos mais conceituados, respeitados e renomados economistas brasileiros: José Alexandre Scheinkman, professor das universidades de Columbia e Princeton. O ponto central, pelo que depreendi, foi sua constatação de que um dos principais problemas da economia brasileira tem a ver com a baixa produtividade do nosso trabalhador, bem como da economia como um todo.
A entrevista teve larga repercussão, inclusive nas redes sociais, pelo grande compartilhamento. Vi, por exemplo, um like/comentário de Gustavo Franco, ex-presidente do BC, aquiescendo com Scheinkman. Outros economistas também salientaram que o tema é pertinente e fundamental.
Produtividade é um assunto complexo e dos mais sérios na teoria econômica. A forma de medir perpassa indicadores dos mais variados. Explicando para um leigo, produtividade é a eficácia na produção. Quanto tempo, por exemplo, um trabalhador leva para produzir um bem ou serviço, com os fatores de produção que ele tem acesso e estão disponíveis.
Traduzindo, se um trabalhador brasileiro leva 4 horas para produzir uma determinada mercadoria, enquanto um americano leva 2 horas para produzir o mesmíssimo item, podemos inferir que a produtividade do trabalhador americano é o dobro da do brasileiro. Somente para contextualizar, em 2017, a produtividade do trabalhador do nosso país caiu para níveis de meados da década de 2000, um baita retrocesso. Para se ter ideia, usando indicadores geralmente aceitos, eram necessários quatro trabalhadores brasileiros para produzirem o mesmo que um único americano. Ademais, no ranking de quase 70 países, nossa colocação, no quesito produtividade, ficava abaixo da 50ª posição.
Mas o que explica um trabalhador brasileiro ter uma produtividade tão mais baixa, comparativamente àqueles dos países centrais?
Tenho convicção de que uma boa resposta para essa indagação está associada à baixa qualidade do nosso ensino. Além da educação de base ser fraca em nosso país, os cursos médios e técnicos deixam muito a desejar, vide os pífios resultados dos testes internacionais que nossos estudantes participam, como o PISA. Assim, quando o aluno, eventualmente, entra na faculdade, ele o faz com enormes deficiências e pouco aproveita a oportunidade que é estar no ensino superior. Explicando de outra forma, os alunos que as faculdades brasileiras colocam no mercado de trabalho (com honrosas exceções) são despreparados e encontram muitas dificuldades de aprendizado profissional. Os de ensino médio nem se fala…
Um segundo aspecto do rol de explicações passa, em minha visão, pelo envelhecimento da nossa população. Esse envelhecimento, que grande parte da sociedade não quer enxergar como inexorável, implica, inclusive, na imperiosa reforma da previdência, que é parte do problema. O que quero dizer é que acabou o bônus demográfico que nos favoreceu por décadas e, ao envelhecermos daqui para a frente a passos largos, precisaremos de mais gente para produzir.
Indo além nas respostas, é impossível não considerar a falta de investimentos em infraestrutura. Desperdiçamos dois grandes momentos recentes, onde poderíamos ter investido fortemente para ajudar nesse quesito: o PAC e o câmbio apreciado.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), dos governos petistas, a despeito de ter investido R$ 2 trilhões (em nove anos), não foi suficiente em determinadas área críticas, como energia. Já quando nossa moeda estava valorizada frente ao dólar, notadamente entre 2006 e 2012, os empresários poderiam tem aproveitado o ensejo para adquirir novas máquinas e equipamentos, mais modernos, que auxiliariam na melhora da produtividade como um todo.
Recentemente, fiz um estudo sobre o assunto, a pedido da Academia Nacional de Economia, do qual sou membro. A ideia da confraria é oferecer, para o novo governo (que toma posse em janeiro), propostas sobre temas cruciais para nossa economia. Abordei vários dos tópicos acima e, quando o documento se tornar público, prometo colocar aqui no nosso blog.