Juros mais baixos. Fazer dívida ou investir?
Recebi a sugestão para falar sobre a queda das taxas de juros, mas não a queda da Selic, a queda das taxas de juros cobradas pelos bancos nos empréstimos, no cheque especial e nos cartões.
Está ainda tudo muito confuso. O Governo lançou o desafio. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal anunciaram mudanças. Os concorrentes logo em seguida fizeram o mesmo para evitar perder clientes.
Mas na prática, ainda não vi nada muito concreto. Ontem mesmo consultando o site do meu banco, as taxas me pareceram as mesmas. Se foram alteradas, foi tão pouco que não deu para perceber. Os extratos dos cartões com vencimento em maio também continuam com taxas impressas elevadíssimas, para o financiamento da fatura.
Nas agências os atendentes não sabem orientar. Também pudera, não houve tempo suficiente para receberem treinamento e oferecer o atendimento apropriado. Os clientes que estão procurando renegociar suas dívidas ou os que estão em busca de novos empréstimos têm reclamando da falta de organização.
Para o Banco Central, conforme última ata da reunião do Copom em 18 de abril, há espaço para mais corte na taxa de juros. Em pronunciamento pelo Dia do Trabalho, Dilma disse que a economia permite redução, que o Brasil tem um dos mais sólidos e lucrativos sistemas financeiros e, portanto, não justifica o país ter “um dos juros mais altos do mundo”, à frente de de países emergentes como Rússia e Índia com taxa nominal de 8%, China 6,5% e México 4,5%, entre outros. A diferença para a taxa dos países desenvolvidos é ainda maior. A taxa dos Estados Unidos está entre 0 e 0,25% e a da Inglaterra 0,5%. Segundo a presidente, não tem como explicar a “lógica perversa” de manter os juros altos para a pessoa física.
Os juros são uma espécie de propulsor da demanda por bens e serviços. Quanto mais baixos, mais o crédito fica atrativo, estimulando o consumo e investimento da indústria e do comércio. Esse é o objetivo claro do governo.
O interessante é que mesmo com altas taxas de juros, nossa taxa de poupança continua baixa. A taxa de poupança é a diferença entre a renda e o consumo, dividida pela renda. Por exemplo, num país com renda total de US$ 1 trilhão e consumo registrado de US$ 800 milhões, a taxa de poupança seria 20%. A taxa de poupança brasileira é muito baixa quando comparada à maioria das economias desenvolvidas e emergentes, 16%. Só a da Turquia é mais baixa 12,5%. Na América Latina a média está acima de 20% e na Ásia em torno de 30%.
Crescimento econômico requer investimento em infraestrutura e educação e a poupança doméstica também deveria ser incentivada. Permite financiar a dívida do país com recursos internos. Analistas consideram que um alto nível de dívida financiada principalmente por poupança doméstica é mais sustentável do que a financiada por agentes externos.
O momento de pensar no futuro é quando as coisas estão indo bem. As famílias que agora fazem parte da nova classe média e, por isso, estão com renda mais alta, deveriam estar investindo mais. Preocupa-me pensar que essa percepção de ascensão social junto com a motivação do governo esteja aumentando o grau de endividamento das pessoas. Pelos números, estamos longe de uma bolha de crédito, mas se a inadimplência nos bancos já é um problema, as coisas podem piorar.
Retornos nominais na faixa de 9% ao ano ainda são muito melhores do que pagar juros, quaisquer juros. Portanto, minha sugestão é: invista.