Para diretor do IPEA, pós-coronavírus não pode jogar o Brasil em nova década perdida
Governo federal, instituições e especialistas deveriam usar criatividade e abrir espaço em novas cadeias globais para contornar falta de recursos para investimentos, afirma José Ronaldo Souza Júnior.
O diretor de estudos e políticas macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), José Ronaldo Souza Júnior, afirma que, além das medidas emergenciais, o governo federal, os governos estaduais, as instituições econômicas e os especialistas deveriam se debruçar sobre estratégias e políticas públicas para a recuperação do Brasil após a pandemia provocada pelo coronavírus.
“Precisamos pensar no pós-Covid-19. Quando tudo isso passar, se fizermos bobagem, o preço vai ser maior e podemos ficar anos sofrendo. Vamos viver mais uma década perdida? Seria catastrófico. Temos de olhar os erros que já cometemos antes, porque o mundo vai mudar em vários aspectos, mas não totalmente”, afirma José Ronaldo Souza Júnior, que conversou com o economista da Órama Alexandre Espirito Santo, em live no perfil da plataforma no Instagram.
Segundo Souza Júnior, o IPEA realizou uma análise, no final de março, que indicaria recessão no fim do ano, com queda de 1,8% do PIB. Atualmente, ele considera essa avaliação defasada, e uma revisão deve apontar um cenário pior para o país.
“É preciso um esforço coletivo, estudar políticas em diversas áreas sobre como atenuar o problema e mitigar os efeitos desta crise, para ter uma retomada mais rápida e em bases mais sólidas. Não será fácil, teremos de ser mais criativos e não depender apenas de investimentos”, analisa o especialista.
Com as atuais medidas emergenciais, o economista da Órama e o convidado ponderam que o governo federal não terá recursos suficientes para realizar, sozinho, os incentivos necessários para a retomada da economia.
“O que não podemos fazer de novo é desperdiçar oportunidades. Para qualquer lado que olho, vejo que vamos precisar de um ambiente macroeconômico estável, bom para os negócios e que não se feche. Um dos riscos seria o país se fechar ainda mais. Deveríamos estar num processo de ampliação da economia”, indica Souza Júnior.
Na análise do especialista do IPEA, será necessário inserir o Brasil em novas cadeias produtivas globais, em busca de maior diversificação. No agronegócio, por exemplo, os produtores nacionais passam segurança para os mercados com os quais negociam.
“É um período muito bom para o agronegócio, e isso deve ser exibido para o mundo. Enquanto outros países aproveitaram o momento para vender mais caro, quebrar contratos e pegar cargas que estavam nos aeroportos, o Brasil manteve seus compromissos”, diz.
Um ponto essencial para a expansão dos negócios brasileiros, segundo Alexandre Espirito Santo, é a realização da reforma tributária, tão importante quanto a reforma administrativa, que daria clareza de governança do país para os mercados internacionais.
“A máquina pública precisa ser mais eficiente. Alguém está propondo aumentar a eficiência? Escolher melhor as políticas públicas? Estamos investindo da forma mais acertada na saúde, olhando os benchmarks, países como Inglaterra, Canadá, Nova Zelândia, que conseguem ter boas práticas, para tentar fazer algo parecido adaptado à nossa realidade?”, questiona Souza Júnior.
Equilíbrio no mercado interno
Na avaliação de Souza Júnior, a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus, com o isolamento social, o fechamento do comércio e a interrupção das atividades, gera choques simultâneos de oferta e de demanda.
Ele afirma que, com o fim do lockdown, a tendência é voltar à normalidade, ainda que alguns setores demorem mais tempo para se recuperar. “A situação é nova, mas o funcionamento da economia não vai mudar radicalmente da noite para o dia. Os fundamentos continuam”, coloca.
Em sua opinião, o que deve ser evitado é prejudicar o equilíbrio macroeconômico. “Meu temor é pessoas tentarem emplacar agendas que já deram errado no Brasil, recorrentemente. A existência da crise não altera o diagnóstico, temos que ficar atentos ao equilíbrio”, frisa o diretor do IPEA.
“Quando a economia começar a retomada, ainda teremos desemprego, que será maior. Há como melhorar o foco nos gastos sociais, gastar melhor e mais diretamente com quem precisa receber esse dinheiro”, complementa o convidado.
A Órama vem apresentando uma programação especial de conteúdos sobre os impactos provocados pelo coronavírus na economia e nos mercados. O nosso blog disponibiliza um curso completo de educação financeira para os novos investidores. No perfil do Instagram, a programação de lives diárias continua, com análises sobre o mercado e feitas por convidados e especialistas da plataforma.
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