Boris Johnson: uma solução ou apenas mais uma onda conservadora?
Na última semana, o mundo viu o ex-prefeito de Londres e fervoroso defensor do Brexit, Boris Johnson, ser escolhido como novo líder do Partido Conservador e, consequentemente, sucessor de Theresa May como primeiro-ministro do Reino Unido. Com cerca de 65% dos votos de filiados do partido, Johnson derrotou Jeremy Hunt e herdou um Reino Unido dividido, vivendo uma crise provocada, em parte, por ele mesmo e sua ala no Partido Conservador.
Grande defensor do Brexit, Johnson liderou uma ala do Partido Conservador que se opôs a qualquer acordo de saída da União Europeia que mantivesse relações entre o Reino Unido e o bloco. Parte da culpa dessa divisão também é de sua antecessora, Theresa May, que falhou três vezes ao tentar aprovar no parlamento o acordo de retirada da UE. O esperado é que o conflito se acentue com a proximidade do prazo que o Reino Unido tem para deixar o bloco, 31 de outubro.
Grande parte da resistência da oposição, inclusive dentro do seu partido, é a defesa de Jonhson a um Brexit sem acordo. A expectativa é de que o primeiro-ministro se comprometa com o prazo de saída e adote uma postura mais agressiva nas negociações. Ele mesmo chegou a afirmar que se comprometeria com sócios da UE apenas se a salvaguarda irlandesa for retirada do mais recente acordo. A salvaguarda irlandesa é um dos pontos mais sensíveis do acordo e é destinada a evitar a existência de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda.
Além da grande polarização, Boris Johnson também terá de enfrentar o desafio de conduzir a economia britânica em um cenário pós-brexit. Até então, a quinta maior economia do mundo vem desacelerando desde o Referendo de 2016, devido a incertezas quanto às negociações e a expectativas de custos comerciais mais altos. No ano passado, o PIB britânico cresceu 1,4%, um crescimento mais fraco que em 2017, quando cresceu 1,7%. Para 2019, o esperado é um crescimento de 1,5%, mas apenas em um cenário de acordo amplo de livre comércio com a UE. Segundo o FMI, ao mudar para as regras da OMC, o Reino Unido sofrerá perdas de produção a longo prazo de, aproximadamente, 6% do PIB – se comparado com um cenário de permanência no bloco econômico.
Apesar de tudo, a taxa de emprego do Reino Unido chegou a atingir níveis históricos. O desemprego tem estado na faixa dos 4%, sendo os jovens os maiores afetados. No entanto, por trás da alta taxa de empregados está a precariedade, o aumento de trabalho em meio período e a estagnação salarial. Em outras palavras, alguns dados macroeconômicos, de alguma forma sólidos, escondem diversos pontos fracos e condições de desigualdade. Logo, o fortalecimento do capital humano é uma das prioridades, segundo o FMI, junto ao investimento em infraestrutura e ao aumento das mulheres no mercado de trabalho para um crescimento mais inclusivo.
Em contramão ao que é projetado pelos economistas, o novo primeiro-ministro enxerga o Brexit como uma oportunidade de crescimento econômico – que foi tratado por May como “uma adversidade climática iminente”. Em discurso, Johnson prometeu investir em regiões que votaram a favor da separação da região do bloco e trabalhar em novos acordos comerciais, considerados uma oportunidade de fazer aquilo que a UE não permitia. No entanto, segundo as expectativas, dados que serão lançados logo após o início do mandato de Johnson podem mostrar o encolhimento da produção econômica, pela primeira vez desde 2012. Mas podemos associar essa desaceleração a um fenômeno considerado temporário: algumas montadoras fecharam e algumas empresas anteciparam seu fim em abril, o primeiro prazo para o Brexit.
Caso as negociações falhem e um Brexit sem acordo se concretize, as possíveis consequências são assustadoras. De acordo com o Bank of England (BoE), o “no deal” levaria o Reino Unido a uma recessão pior que a provocada pela crise 2008. Como dito anteriormente, a economia pode vir a encolher cerca de 6% se não houver um período de transição. O BoE também projeta uma perda de um quarto do valor da libra esterlina, que é hoje uma das moedas mais fortes do mundo. Já segundo o Tesouro britânico, essa ruptura sem acordo causará uma perda de 90 bilhões de libras até 2035 para a economia. No dia a dia, o “no deal” poderá afetar os preços dos alimentos nos supermercados, uma vez que 28% dos alimentos consumidos na região britânica são importados da União Europeia.
Mesmo com os alertas, Boris Johnson e sua ala de radicais defensores do Brexit acreditam que esses dados são exagerados, e que um cenário de ruptura com a UE proporcionará mais dinamismo para a economia britânica. Até o momento, não está nítido se Johnson aceitará suavizar o seu discurso ou se manterá sua retórica mais radical. Saberemos conforme as negociações forem postas à mesa.
Maria Mesquita
Membro de Análise Macroeconômica do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro