A Peste Suína Africana e Seus Impactos Comerciais
Em agosto do ano passado, iniciou-se um surto de Peste Suína Africana (PSA) na segunda maior economia do mundo, a China. De lá para cá, a nação asiática, que é atualmente o maior produtor e consumidor mundial de suínos, foi obrigada a sacrificar entre 150 e 200 milhões de porcos, e pode chegar a diminuir em 35% o agronegócio ligado à carne suína. Devido à proporção desse mercado – que corresponde a 73% do consumo total de proteína na gigante asiática, além de representar nada menos que metade do comércio mundial –, essa crise também acaba gerando impacto em outras nações que comercializam os produtos. Um dos países que mais se beneficiaram com esse surto foi a própria nação brasileira.
Dados recentes mostraram que as exportações nacionais de suínos para o país asiático atingiram US$ 35,8 milhões no mês passado, o que marcou o maior valor mensal transacionado com a China desde o início do comércio entre os dois países, em 1997. Em comparação com o mês de abril de 2018, o resultado deste é 42% superior, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Além da carne suína, também aumentaram as exportações de frango, alimento que passou a ser um substituto para a carne de porco. Em pouco tempo, o gigante asiático se tornou o maior importador de suínos e frangos brasileiros, responsável por 28% e 11,5% do comércio, respectivamente.
No entanto, não se pode definir ainda o impacto do aumento das exportações desses dois produtos. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que engloba a produção de frangos e suínos, existem fatores que complicam a alta repentina da oferta brasileira. Primeiramente, o próprio sistema de produção de suínos, que é longo: o tempo percorrido entre a gestação de uma matriz e o primeiro filhote, até que fique pronto para o abate, dura praticamente um ano. Em segundo lugar, a China só importa de frigoríficos habilitados e, atualmente, apenas nove são autorizados a exportar para lá.
Ainda assim, este momento não deixa de ser uma excelente oportunidade para o comércio brasileiro, tendo em vista que a produção chinesa desse tipo de alimento não será recomposta antes de dois a três anos. Além disso, em 2015, quando houve uma epidemia de gripe aviária, o Brasil se tornou rapidamente o maior exportador de frangos do planeta, e agora pode ser que história se repita, desta vez com carne suína.
Analistas do mercado avaliam que os frigoríficos brasileiros que são autorizados a comercializar com a China podem ser beneficiados em diversos aspectos, frente à atual “disrupção” do comércio de carnes mundial. Como há uma oferta reduzida de carne suína na potência asiática, isso gera um grande impacto nos seus preços e volumes de importação. Os principais substitutos, as carnes de frango e bovina, também passam a ser mais demandados e, por conta disso, sofrem elevações em seus preços da mesma forma. Um outro fator importante é a queda nos preços dos grãos, levando em conta que, devido à epidemia, a China vai importar uma quantidade muito menor de soja e milho para a ração dos animais.
Em relação a isso, o presidente da Associação Catarinense de Produtores Suínos, que faz parte do maior estado produtor e exportador do país (Santa Catarina), afirmou que os produtores integrados, que estão vinculados à indústria de carnes, já tiveram reajuste de preços, por volta de 20%. Sua expectativa é de que, nos meses que estão por vir, o preço estoure ainda mais. Todos esses movimentos, em conjunto, influenciam positivamente as ações brasileiras do setor, que estão apresentando altas expressivas na Bolsa. Destaque para BRF, JBS e Marfrig, que são do ramo de proteínas e apresentaram os maiores ganhos.
Segundo uma pesquisa do Bradesco BBI, em um cenário de alta de 10% dos preços dos diferentes tipos de carne, em paralelo com uma queda de 10% em relação ao valor pago pelos grãos, é provável que haja considerável valorização em cada uma das empresas citadas acima. É estimado que o preço-alvo para a BRF seja revisado de R$ 30 para R$ 38, enquanto o da JBS se elevaria de R$ 17,50 para R$ 20,50; e o da Marfrig, de R$ 7,50 para R$ 8,50. Todas essas mudanças aumentariam bastante o potencial de valorização de cada uma dessas ações.
Resumindo: devido a uma infelicidade de uma epidemia instalada na maior produtora e consumidora mundial de suínos, com a consequente falta de oferta para suprir a demanda por esse tipo alimento, a China passou a ter que importar de outros países. Logo, tornou-se a maior importadora de carnes suína, de frango e bovina do Brasil, assim como diminuiu a importação de grãos para alimentação de seus animais.
Toda uma mudança comercial foi implementada, o que foi muito bom para as empresas brasileiras – que já estão começando a apresentar altas significantes. A tendência agora é que a boa fase continue pelos próximos dois, três anos, enquanto a gigante asiática ainda não terá condições de recuperar sua produção de proteína. Se as coisas continuarem do jeito que estão, pode ser que o Brasil se torne o maior exportador mundial nesse tipo de mercado. É esperar para ver.
André Christoph
Membro de análise Macroeconômica do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.