Inversão na Curva de Juros dos EUA: O que esperar?

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Desde o ano passado, tem se aumentado o debate sobre uma possível aproximação de uma recessão nos Estados Unidos. Há cerca de duas semanas, foi dado o sinal de que a maior economia do mundo pode vir a enfrentar esse cenário – a inversão da curva de juros. O que ocorreu foi que o rendimento (yield) dos títulos do tesouro americano de curto prazo ficou acima do rendimento do título de longo prazo, o spread entre a T-bill de 3 meses e a T-note de 10 anos ficou negativo pela primeira vez em mais de uma década. Mas por que isso indica que uma recessão pode estar a caminho?

O termo curva de juros se refere à relação entre as taxas de curto e longo prazo de títulos de renda fixa emitidos pelo Tesouro. A inversão na curva ocorre justamente quando as taxas de juros de curto prazo excedem as taxas de juros de longo prazo. Uma curva de juros normal tem inclinação para cima, o que reflete rendimentos maiores para investimentos de longo prazo. Quando o spread entre as taxas de juros se estreita, as curvas de juros começam a se achatar. De certa forma, uma inversão na curva indica uma recessão porque a curva de juros está diretamente ligada à expectativa de inflação, ou seja, o yield de longo prazo tende a ser maior que o de curto pois a expectativa é de, normalmente, crescimento da economia e com isso da inflação também.

Os ciclos econômicos historicamente passam por períodos de crescimento seguidos de períodos de recessão e as curvas de juros são essenciais para esses ciclos. A medida que o ciclo econômico começa a estagnar, possivelmente devido ao aumento da taxa de juros pelo Fed, a inclinação tende a se estabilizar, uma vez que as taxas de curto prazo aumentam e os rendimentos mais longos se mantém estáveis – ou pouco retrocedam. Nesse ambiente, os investidores passam a ver os yields de longo prazo como substituto para o potencial retorno mais baixo em ações e outros ativos.

O presidente da distrital do Fed em Chicago, Charles Evans, chegou a comentar em entrevista à TV Bloomberg que o achatamento da curva já era esperado e que a política monetária do Fed já está se aproximando do nível neutro, em que as taxas de juros não irão nem estimular, nem prejudicar o crescimento econômico. As autoridades do Fed interromperam mais aumentos de juros e segundo as últimas previsões divulgadas, não é esperado nenhuma alta em 2019 e apenas uma em 2020. Apesar da tendência dovish ter ajudado a acalmar os investidores, as preocupações com o crescimento econômico mais fraco, tanto nos EUA como no resto do mundo, sobrepuseram o alívio do mercado e ajudaram na queda dos rendimentos dos títulos.

Vale acrescentar que os investidores não são os únicos que sofrem com os impactos de uma inversão da curva de juros. ARMs (Adjustable-rate mortgages) são empréstimos para habitação com uma taxa que varia à medida que a taxa de juros de curto prazo aumentam ou diminuem, quando a inversão da curva ocorre e as taxas de juros de curto prazo ficam mais altas que a de longo prazo as mensalidades em ARMs tendem a subir, tornando empréstimos com taxas fixas mais atraentes do que aqueles com taxas ajustáveis. Da mesma maneira as linhas de crédito são afetadas. Nos dois casos, os consumidores acabam utilizando uma parcela maior da sua renda para pagarem a dívida existente, reduzindo as suas reservas e proporcionando, para a economia como um todo, um efeito negativo.

Em vista do caos que chegou a tomar conta do mercado, muitos economistas foram à público para tentar explicar melhor o cenário em que se encontra o país, além do próprio Charles Evans, Neel Kashkari – presidente da distrital do Fed em Minneapolis – afirmou que, apesar de não considerar os sinais da curva de juros totalmente perfeitos, uma recessão em 2020 é “certamente possível” porque em qualquer ano há chance, mesmo que pequena, de uma recessão. No entanto, ele acredita em um crescimento econômico contínuo, porém mais lento que em 2018. No caso de Janet Yellen, ex-presidente da instituição, esse evento não é sinal de recessão, mas sim uma sinalização para a necessidade de corte nas taxas de juros, ela justificou afirmando que a inversão da curva é mais fácil de acontecer devido aos esforços de estímulos feitos tanto pelo Fed quanto por outros Bancos Centrais para comprar títulos de dívidas, o que acarreta em uma inversão temporária na curva. Em suma, se ocorrerá ou não uma recessão não podemos afirmar, porém é importante se manter atento ao atual cenário, visto que qualquer mudança abrupta na política monetária dos EUA afetará os mercados em todo o mundo.

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 Maria Mesquita

Membro de Análise Macroeconômica do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

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