GUERRA ENTRE POTÊNCIAS: SÓ HÁ UM VENCEDOR, A CRISE

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Após dois anos de relativo crescimento, é crível que irá haver uma desaceleração da economia mundial ao longo de 2019 e dos próximos anos. A queda não tende a ser forte, de acordo com as previsões do Fundo Monetário Internacional, porém perturba devido a algumas características da economia mundial, neste momento, associadas às políticas implementadas após a crise 2008: um possível enfraquecimento dos instrumentos de política econômica, que poderiam evitar esse cenário no futuro e o elevado nível de endividamento do setor não financeiro.    

Ainda que o crescimento tenha perdido força na Zona do Euro ao longo de 2018, o ritmo de crescimento dos EUA acelerou em comparação ao ano anterior, de 2,2% para 2,8%. Apesar de estável a taxa de crescimento global prevista para esse ano pelo FMI em 2,8%, a entidade aponta para uma desaceleração nas economias desenvolvidas, principalmente nos EUA, em que é esperada uma queda de 2,9% para 2,5%, além disso, o Banco Mundial reviu para baixo as estimativas de 2020 e 2021 reduzindo para ambos, em 0,1 pontos percentuais e projetam um crescimento de 2,8%. Nos países em desenvolvimento, a previsão é de que o crescimento se mantenha estável, em 4,7%, porém para a economia chinesa, a previsão é que caia de 6,5% para 6,2%. Diante dessa interpretação de menor crescimento e do aumento dos riscos, os últimos meses marcaram o início de um processo de reavaliação de preços de ativos e de aumento da volatilidade nos mercados financeiros.

Essa volatilidade tem também afetado o comportamento dos preços de commodities no mercado internacional, em particular os do petróleo, que aceleraram de junho do ano passado até o início de outubro de 2018, quando atingiram seu nível mais elevado em quatro anos – acima de US$ 86/barril, mas que desabaram, atingindo US$ 60/barril no final de novembro. Os elevados níveis de endividamento aumentam os riscos para a economia ao ampliar os efeitos de eventuais choques, sejam eles reais ou monetários. Houve forte aumento da alavancagem nos países avançados, envolvendo todos os setores institucionais, especialmente os governos depois da crise, e na China, com destaque para as empresas.

Os riscos têm sido ampliados devido a guerra comercial entre EUA e China, o impasse sobre a saída do Reino Unido da União Europeia e pelas sucessivas altas de juros do Fed. O receio é que uma expansão mundial possa gerar inflação ou investimentos especulativos que, sem dúvidas, poderiam levar as economias mais frágeis a uma recessão. Além disso, atualmente as economias estão muitos mais interligadas com suas finanças, comércio internacional e investimentos.

Como já citado, uma importante ameaça à economia dos EUA é a guerra comercial que Trump vem travando com a China. O presidente Trump impôs uma sobretaxa de 10% aos produtos chineses avaliados em US$ 200 bilhões – uma tarifa que deverá subir para 25% em 2019, caso o acordo comercial que têm prazo final no início de março entre os países não seja firmado. Ele também ameaçou sobretaxar mais US$ 250 bilhões em produtos chineses. Uma guerra comercial prolongada entre as duas maiores potências mundiais, prejudicaria o comércio internacional e consequentemente, o crescimento econômico.

De modo igual, impasses políticos contribuem para o lento ritmo de crescimento da Europa o qual já dura cinco anos. O Reino Unido luta para ter sua saída concluída da UE e as incertezas que rodeiam o governo da premiê Theresa May vêm afetando os mercados. Na Itália, os problemas são provocados por um governo que quer aumentar os gastos, contrariando as regras de déficit para os países da zona do euro. O aumento das dívidas pode levar as taxas de juros da Itália a alcançar níveis que estagnariam o crescimento e prejudicaria os países da zona do euro.

Mesmo assim, os principais riscos para a economia global são a possibilidade de volatilidades dos mercados financeiros, um aumento das disputas comerciais, a incerteza política e a desaceleração econômica dos EUA e China, as duas maiores economias mundiais. “Se o crescimento chinês abrandar um ponto percentual, o crescimento mundial abranda 0,3 pontos percentuais. As economias emergentes e mercados em desenvolvimento abrangeriam 0,6%, quase o dobro, porque estão mais expostas à China do que as economias avançadas”, indicou o banco mundial. Apesar disso, a economia chinesa já estava esfriando antes de Trump aumentar as tarifas para reduzir o déficit comercial dos EUA com Pequim e proteger as empresas americanas.

A possibilidade de um crescimento da economia global menor este ano tem chamado atenção dos investidores para países que tenham perspectivas de crescimento e com possibilidade de investimentos. A posição pró mercado da atual equipe econômica é vista com bons olhos pelos investidores e muitos países que tinham condições de ter para si esses investimentos não estão em situações favoráveis e isso faz com que o Brasil fique em destaque no cenário internacional.

O menor crescimento mundial não deve ter tanto impacto no processo de retomada do crescimento no Brasil, já que o país depende das reformas internas, podendo assim crescer acima das previsões. Pelos cálculos feitos pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a economia brasileira poderia crescer, em média, 1,4 ponto percentual se houver de fato as reformas estruturais que o país precisa. Entre outros critérios que podem fazer com que o potencial de crescimento do país aumente, de acordo com a organização, estão as reformas fiscais e as medidas que façam com que haja aumento da produtividade do setor industrial e maior abertura do comércio com outros países.

De fato, os olhos do mundo estão voltados para os maiores países do mundo, EUA e China, que competem ferozmente na briga da liderança das superpotências mundiais. Contudo, essa briga gera perdas e consequências não só para si próprios, mas também para todos os países do mundo, pois em um mundo como o de hoje, onde as economias são interligadas, todos os países dependem do outro, visto que ninguém é autossuficiente e apenas uma melhora nessa relação poderia criar um horizonte menos flutuante tanto para as geopolíticas quanto para os mercados.

 

VictorMartinsPassosdeSallesSouza Victor Martins Passos de Salles Souza

Membro de Finanças Corporativas do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

 

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