Reflexões acerca do ‘shutdown’ norte-americano
Podemos até achar preocupante ou mesmo estranho o congelamento do governo norte-americano, mas já aconteceu outras vezes. O que diferencia o shutdown atual dos anteriores é justamente o tempo de duração, que bateu o recorde de dias parados.
Mas o que é o tal shutdown? O shutdown acontece pela não votação de orçamentos propostos pelo executivo no congresso americano, e normalmente ocorre com a discordância de ideias entre os dois partidos mais fortes do país. Preso nesse impasse, diversas agências do governo são fechadas temporariamente, afetando grande parte dos serviços americanos. Temos o exemplo de parques nacionais fechados, grupos de controle aéreo parados, inspeções sanitárias não feitas e até mesmo a retirada de passaportes é vetada.
O primeiro shutdown ocorreu em 1976 com o governo do presidente Gerald Ford, com 10 dias de paralisação. Nos anos 1970, começaram as votações de orçamentos propostos pelo governo principal, ocorridas no Congresso e, seguindo esse novo método de aprovar verbas para produzir projetos ou até mesmo construções (caso recente), ocorreram diversos shutdowns de lá para cá. Todos eles afetaram a máquina pública, deixando seus servidores sem trabalhar e, consequentemente, sem salário, pegando muitas famílias de surpresa.
A situação norte-americana recente diz respeito ao fato de o Presidente Trump querer incluir fundos para a construção de um muro na fronteira contra imigrantes no projeto orçamentário, que estenderia recursos para o financiamento do governo. A Câmara dos Representantes, que está com maioria republicana, aprovou o orçamento. Todavia, o Senado confirmou um projeto que não incluía verbas para a construção do muro, o que fez Trump decretar paralisação do governo – afirmando que nenhum plano de segurança para a fronteira poderá funcionar sem barreira física.
Esse shutdown durou 35 duros dias para os servidores públicos que obtiveram seus salários congelados, o maior período de paralisação governamental já ocorrido na história dos Estados Unidos. No dia 22 de janeiro, o presidente Donald Trump assinou um decreto para a reabertura do governo, concordando em aprovar a prorrogação orçamentária sem a inclusão do muro – o motivo de discórdia pelos democratas. Entretanto, haverá uma reabertura da votação que englobará novamente os democratas, para um acordo migratório que tenha a inclusão da verba para o muro.
É importante frisar as consequências que esse embate político interno proporcionou para a economia americana, visto que diversos serviços internos e destinados a turistas ficaram parados, e praticamente 400 mil funcionários foram obrigados a trabalhar sem remuneração. Para os democratas, pode ser considerado uma vitória; para Trump, será difícil engolir, visto que o muro de imigrantes foi a principal fonte de votos de sua campanha. Portanto, ainda veremos possíveis shutdowns por causa de novos embates entre democratas e republicanos, que levará, mais uma vez, ao atraso da economia americana.
João Guilherme Lisboa
Diretor administrativo do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.