Ouro: uma abordagem histórica e econômica

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Entre os metais preciosos, ganha destaque a história de um deles, que abrange valores culturais, financeiros e emocionais: o ouro. Vale compreender melhor como a conjuntura histórica proporcionou um mercado tão amplo e complexo ao longo dos anos e que se mantém ativo –  por diversos motivos – até os dias de hoje. O ouro detém seu valor monetário por ser um dos metais mais escassos da natureza e um dos menos reativos.

Em meio à trajetória ascendente dos preços do metal, que vem de muitos séculos atrás, podemos citar o padrão-ouro clássico para melhor contextualizar o cenário. O padrão-ouro vigorou de 1870 até o estopim da 1ª Guerra Mundial, em 1914. Tal sistema funcionava de forma que cada economia detinha sua moeda lastreada em ouro.  As moedas domésticas eram livremente conversíveis em ouro a um preço fixo e não havia quaisquer restrições à importação ou à exportação do metal.

Dessa forma, os bancos centrais possuíam certas obrigações para um melhor funcionamento do sistema do padrão-ouro clássico. Podemos citar duas principais: manter a conversibilidade da moeda fiduciária em ouro a um preço fixo e defender a taxa de câmbio e acelerar o processo de ajuste em caso de desequilíbrio no balanço de pagamentos (saldo das exportações líquidas). Esta última “obrigação” foi frequentemente violada, pois nem sempre os bancos centrais e governos seguiam as “regras do jogo” – como era esperado.

Em um panorama pós-crise de 29, quando as economias estavam em processo de recuperação e, com anseio de estabilidade após o fim da 2ª Guerra Mundial, notou-se que o modelo de padrão-ouro precisava ser substituído. Foi criado, então, o Sistema de Bretton Woods – em 1944 – determinando a paridade de US$ 35 a onça de ouro, e todas as moedas com câmbios fixos, porém ajustáveis em relação ao dólar.

Ao contrário do antigo sistema, a partir de então o controle de capital permitia que os governos estimulassem suas economias sem sofrer penalidades do mercado financeiro. Sendo assim, ao longo desse período de Bretton Woods, a economia mundial cresceu rapidamente.

Entretanto, as tensões começaram a surgir na década de 60, em meio a uma inflação global persistente, embora baixa, o que tornou o preço do ouro muito baixo em termos reais. Um déficit comercial crônico dos EUA drenou as reservas de ouro do país, mas houve uma resistência considerável à ideia de desvalorizar o dólar em relação ao metal. Tamanha foi a referida resistência, que oito nações europeias juntaram suas reservas para defender os US$ 35 por onça e evitar que o preço do ouro subisse. Porém, os esforços não perduraram por muito tempo, e o sistema de Bretton Woods entrou em colapso durante o governo Nixon, em 1971, proporcionando uma negociação livre do ouro nos mercados globais.

Neste novo cenário, os preços do ouro passaram a flutuar – baseados na oferta e na demanda. Vale ressaltar também que o metal possui a característica intrínseca de ser um ativo de segurança, de modo que sua demanda é impulsionada em tempos de estresse global, quando há incertezas quanto a crises econômicas ou guerras. A procura do ouro como ETF (Fundos negociados em bolsa), ou seja, pelo contrato futuro da commodity, é realizada por operações com onça troy, que pesa 31,104 gramas.

A maior parte da demanda por ouro é baseada em reservas internacionais dos bancos centrais, negociações das ETFs, demanda de barras e moedas de ouro propriamente ditas, diversos estudos de nanotecnologia e joalherias (cerca de 50% da demanda total). Os principais consumidores do metal são China, Índia e Estados Unidos, enquanto os principais produtores são China, Austrália, Rússia e Estados Unidos.

Os preços da commodity desde seu processo de flutuação de preços apresentam uma característica relativamente cíclica, aumentando ou retraindo sua demanda em determinadas épocas do ano (como por exemplo o aumento típico do mês de setembro, caracterizado pela compra sazonal de jóias no período), além de deter baixa volatilidade no curto prazo. Possui tendências bem definidas – sejam de alta ou baixa – levando em consideração um cenário sem fortes impactos globais que venham a interferir no desempenho do ouro. Entre os exemplos mais atuais podemos citar as tensões comerciais envolvendo os Estados Unidos, as políticas monetárias efetuadas pelo Federal Reserve – elevando as taxas de juros norte americanas – e o consequente fortalecimento do dólar no mundo.

Por muito tempo, observou-se uma correlação negativa entre o dólar e o ouro, ou seja, o ouro se valorizava frente a uma desvalorização do dólar, ou vice-versa. Contudo, há um certo tempo, o dólar se fortaleceu de forma que começou a ser considerado por investidores como um ativo de refúgio. Assim, a análise dessa correlação deixou de existir, e o mercado do metal se tornou ainda mais complexo, com mais peso em outras variáveis externas.

Portanto, apesar do aumento dos juros americanos (que tendem a ser negativos ao ouro, pois impulsionam o dólar e aumentam o custo de oportunidade de manter o metal sem rendimento), o ouro vem apresentando resultados positivos e se mostrando resistente à moeda norte americana, com maior procura entre os participantes do mercado à medida que aumenta a aversão ao risco. Esse movimento promete um desfecho interessante no restante do ano,  que deve ser acompanhado pelos participantes do mercado.

 

JorgeLucasMarquesJorge Lucas Marques 

Membro de Análise Macroeconômica do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

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