Eleição: uma peça dividida em vários atos
Desde sua colonização, o Brasil vive diversas dificuldades políticas. Fazer política neste país, nunca foi tarefa fácil, e nos dias atuais essa perspectiva não se altera. Com um cenário econômico repleto de incertezas e uma eleição tão imprevisível quanto a que virá, o mercado financeiro vem penalizando ativos brasileiros nos últimos meses. De fato, a situação por aqui não é nem um pouco confortável: o próximo presidente precisa não só reconhecer os problemas que devem ser resolvidos, alguns deles inclusive com medidas bastante impopulares (como a previdência), mas também ter força no Congresso para aprovar tais medidas.
Em meio a um cenário recheado de turbulências, o Ibope realizou na última sexta-feira um “termômetro” sobre os cenários da eleição. Com resultados bastante expressivos, a eleição, sem dúvida alguma, influenciará não só o rumo da política brasileira, como também o do mercado acionário e o da economia. Com candidatos apresentando ideias bastante diversificadas, desde privatizar a maioria das empresas estatais até uma meta inflacionária maior e que faça o real se desvalorizar perante o dólar, não faltarão debates acalorados.
Num momento como o atual, de diversas ideias, e sem um rumo claro de como as reformas na economia terão sequência (vide a reforma da previdência, que está para ser votada desde que o Presidente Temer assumiu em 2016), além de tensões externas com ameaças de uma guerra comercial envolvendo as duas maiores economias do mundo e o processo de aumento da taxa de juros nos EUA, os ativos brasileiros vêm sofrendo alta volatilidade. O dólar chegou a atingir um patamar de R$ 3,91, aumentando ainda mais a pressão não só sobre o governo, mas também sobre o Banco Central, que foi obrigado a rolar swaps para tentar conter a desvalorização do real.
Aqui entram os principais “players” desta eleição. Basicamente, existem dois cenários distintos, onde esses candidatos podem mudar a forma da eleição. Um deles é com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se o mesmo conseguir uma liminar que o absolva de sua prisão e se ele se enquadrar na Lei da Ficha Limpa, poderá concorrer. O petista possui 33% das intenções de votos. Com ele ganhando, a economia poderia sofrer muito, visto que o ex-presidente defende que a reforma previdenciária é “um roubo à sociedade” – mesmo que ele tenha tentado implementá-la em seu mandato. Além disso, pretende continuar uma série de programas de incentivos fiscais, que não mais se mostram viáveis, visto o “inchaço” do Estado. Com diversos programas sociais que contribuíram para ampliar o déficit no balanço de pagamentos do país, e uma previdência falha, na visão de muitos economistas, o petista quer continuar com seu ideal de “fiscalidade para o bem”.
O segundo cenário é sem Lula na disputa. Aqui, a eleição se encontra mais fragmentada e aberta, de acordo com a pesquisa. Liderando com cerca de 15%, Jair Bolsonaro promete várias reformas na economia. Ele é conhecido por ser inflamado e controverso. Por ser uma “personalidade” nas redes sociais, sua intenção de voto aumenta, mas há também forte rejeição. Entretanto, o que mais chama atenção é seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes. Com uma carreira admirável e ideias liberais, o plano de governo de Guedes parece interessar ao mercado. Para abater as dívidas do Estado e reduzi-las, o citado “ministro de Bolsonaro” pretende fazer uma reforma fiscal, cortar despesas e “privatizar aceleradamente as Estatais”. Essas são, na visão de muitos, medidas bastante ousadas, que poderiam não ter apoio popular, aumentando a rejeição de Bolsonaro, que beira os 33% (é a maior de todas, quase empatado com Lula, com 32%).
Outros dois “players” são Ciro Gomes e Marina Silva. A última, empatada tecnicamente com Bolsonaro, vem com o mesmo plano de eleições anteriores, porém participará pela primeira vez de um pleito pela Rede Sustentabilidade, partido recém-fundado. Ela acredita também em políticas fiscais feitas no passado pelo governo Lula, o que leva um certo receio ao mercado.
Ciro é um velho conhecido da política brasileira. Ministro da Fazenda de 1994 a 1995 e com uma longa carreira, tendo sido governador e deputado estadual do Ceará, além de prefeito de Fortaleza, Ciro causa temor ao mercado. Com diversas declarações feitas sobre o dólar – como, por exemplo, que “o preço do dólar bom para a economia é de R$ 4,10 e que o banco central não pode ter reservas cambiais” – Ciro se mostra “repelente ao mercado”. Contando com Nelson Marconi (diretor da Associação Keynesiana Brasileira) como seu futuro ministro da fazenda, os dois prometem uma alta desvalorização do real, o que, segundo eles, pode aumentar o poder da indústria brasileira, fazendo com que exporte mais. Economistas temem que esse efeito aumente o preço dos produtos (inflação), além de exigir aumentos na taxa de juros. Ciro Gomes defende ainda que a reforma da previdência “não passa de mera artimanha criada pela direita e que não existe déficit na economia”, mostrando ser totalmente contra a medida.
Vários fatores podem mudar o rumo da eleição. Fatores que geram incertezas entre os investidores. Os ativos brasileiros se encontram em uma maré de oscilação, sem saber para onde vão. Há vários aspectos que podem comprometer a economia e o futuro político do Brasil. Os próximos “atos” dessa enorme peça serão decididos em outubro, quando se saberá por quais mãos passará o futuro da economia e da população brasileira, a partir da escolha do Presidente da República.
Marcelo Lopez
Membro de finanças corporativas do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.
O grande desafio de qualquer um que vença o pleito é Acabar com a corrupção, o que, na minha humilde opinião, não vai ocorrer, infelizmente. Além, claro, de extinguir as farras com o dinheiro público (Legislativo, Judiciário e o próprio Executivo), Fixando DEspesas (na verdade, torrando mesmo, pois não se trata de investimento para a nação) a bel prazer para o nós ( o povo) pagar a conta.