Análise semanal pela Flag Asset – 21/05 a 25/05
No ambiente doméstico, a semana se destacou pela greve dos caminhoneiros e seus impactos. Os reflexos sobre a atividade econômica de curto e médio prazo serão negativos, assim como sobre a inflação de curto prazo. Os impactos também serão relevantes sob o ponto de vista fiscal, em razão dos subsídios concedidos pelo governo no preço do diesel e dos potenciais efeitos negativos sobre a arrecadação da recuperação mais lenta da atividade. Vale destacar que a deterioração do ambiente doméstico, a forma como a população e as lideranças políticas reagiram à greve e o crescimento nas pesquisas eleitorais dos candidatos vistos como populistas agravam o nível de incerteza econômica e política. Ainda no Brasil, a ata do Copom confirmou a mensagem anterior do Banco Central de que não há relação mecânica entre o cenário externo (leia-se taxa de câmbio) e a política monetária. O IPCA-15 de maio foi mais um número de inflação que surpreendeu para baixo, como vem ocorrendo de forma recorrente desde o ano passado. No cenário externo, a ata da última reunião do FED foi vista como mais dovish. Na Europa, as dificuldades políticas para a formação de um governo na Itália devem levar a uma nova eleição nos próximos meses, enquanto o PMI de maio coloca dúvidas sobre a velocidade de recuperação da atividade da Zona do Euro no 2º trimestre.
No mercado externo, o dollar index continuou a se valorizar, com alta de 0,7% na semana passada. Apesar da ata mais dovish do FED, o euro manteve a trajetória de enfraquecimento, afetado principalmente pela indefinição política com relação à formação do novo governo na Itália. Os juros globais recuaram de forma expressiva, com a taxa da treasury de 10 anos passando de 3,06% para 2,93%, movimento que iniciou com a ata do FED e prosseguiu com o fechamento dos juros na Zona do Euro (à exceção da Itália, cuja curva de juros subiu fortemente). O bund de 10 anos da Alemanha recuou de 0,58% para 0,41%, tendo em vista o movimento de flight to quality. As bolsas americanas se mantiveram tranquilas, com valorização de 0,3%. Destaque ainda para a queda do petróleo, com variação de -4,7% do WTI e de -2,9% do Brent, como consequência dos discursos vindos da Arábia Saudita e da Rússia sobre a possibilidade de aumento de produção ao longo do 2º semestre deste ano. No mercado local, a parte curta e intermediária da curva de juros se deslocou para baixo, em resposta à apreciação do real, à ata do Copom e à divulgação do IPCA-15 de maio abaixo do piso das expectativas do mercado. Por outro lado, a parte longa da curva de juros continuou pressionada, devido à piora do ambiente político do país e às notícias de que seriam usados recursos fiscais para a redução do preço do diesel. O DI jan/20 caiu de 7,76% para 7,59% e o DI jan/25 subiu de 10,65% para 10,90%. Após o fechamento dos mercados na sexta-feira, o Tesouro Nacional anunciou que irá realizar leilões diários de recompra de títulos prefixados de longo prazo, com o objetivo de garantir o bom funcionamento do mercado de títulos públicos e de outros mercados correlatos. Apesar do aumento do risco político doméstico, o real se apreciou 2,2% na semana, tendo o melhor desempenho dentre as moedas emergentes, favorecido pelo aumento da oferta diária de swaps cambiais de US$ 250 milhões para US$ 750 milhões. Por fim, no mercado de renda variável, o Ibovespa desvalorizou 5,0%, contaminado pela “crise do diesel” e seus potenciais efeitos sobre a Petrobras (cuja ação caiu 23% no período) e a atividade econômica.
A greve dos caminhoneiros adicionou incerteza ao quadro instável que se avizinha, com a proximidade da eleição presidencial. O impacto da paralisação dos caminhoneiros será significativo, afetando de forma relevante as projeções de crescimento econômico e também gerando pressão sobre o resultado fiscal e a inflação. Segundo o governo, o custo das medidas anunciadas na noite deste domingo será de R$13,5 bilhões, que podem ser parcialmente compensados caso o projeto de reoneração da folha de pagamentos seja aprovado no Congresso, o que adicionaria R$ 4 bi à receita do Tesouro. Dentre os R$ 9,5 bilhões restantes, R$ 3,8 bilhões viriam de redução de despesas discricionárias e R$ 5,7 bilhões viriam de uma reserva de contingência existente no orçamento de 2018. Vale destacar que o cálculo do custo fiscal foi feito considerando estáveis o preço do petróleo e o câmbio e sem considerar os efeitos sobre a arrecadação da atividade mais fraca. Revisamos para baixo a nossa projeção de crescimento do PIB de 2018 de 2,6% para 1,5%, em função de fatores como o impacto das condições financeiras mais restritivas, o cenário político conturbado gerando postergação das decisões de investimento e de consumo e o impacto da paralisação da atividade econômica no mês corrente.
Seguindo a indicação dada quando do comunicado de aumento da oferta de swaps cambiais, a ata da última reunião do Copom reforçou que a política monetária não reage automaticamente a choques externos. De acordo com a ata, “o Comitê reiterou o entendimento de que, com expectativas de inflação ancoradas, eventuais choques que produzam ajustes de preços relativos devem ter apenas seus efeitos secundários combatidos pela política monetária”. Justificou a decisão de manter os juros estáveis por ter se tornada desnecessária a mitigação do risco de uma convergência demasiadamente lenta da inflação às metas. A autoridade monetária apontou ainda que, para as próximas reuniões, vê como adequada a manutenção da taxa de juros no patamar corrente. A FLAG mantém a expectativa de que a taxa de juros seja mantida no patamar de 6,50% até, pelo menos, o fim de 2019, tendo em vista a perspectiva de lentidão de fechamento do hiato do produto. O risco principal reside no comportamento da moeda por conta das eleições presidenciais.
O IPCA-15 de maio variou 0,14% na comparação mensal, representando uma variação anual de apenas 2,7%. Mais uma vez, a inflação surpreendeu para baixo, com destaque para os núcleos, em uma indicação que a atividade econômica mais fraca gera pressões baixistas. Esperamos que o repasse cambial, o choque de oferta negativo de alimentação ocasionado pela greve dos caminhoneiros e a mudança da bandeira tarifária de amarela para vermelha 2 pressionem a inflação a partir de junho. Nossa projeção preliminar para o mês em questão se encontra em 0,75%. Estimamos IPCA de 3,9% em 2018, com o impacto altista da depreciação do real do câmbio e do choque de alimentos sendo contrabalançado, em parte, pela atividade mais fraca.
Nos EUA, a ata da última reunião do FED foi mais dovish. Os participantes apontaram que algum overshoot da inflação pode ser benéfico para os objetivos da autoridade monetária, sendo que alguns membros colocaram em dúvida se o movimento recente de alta da inflação se deve a fatores permanentes ou temporários.
Na Europa, observou-se uma nova rodada de decepção com dados de atividade e um acirramento no risco político na Itália. A prévia do PMI de maio recuou de 55,1 para 54,1, com queda tanto em manufaturas quanto em serviços, indicando continuidade no movimento de enfraquecimento da atividade econômica da Zona do Euro. Na Itália, não foi bem sucedida a tentativa de formação de um novo governo, numa coalizão que juntava os partidos Movimento Cinco Estrelas e a Liga. O fracasso na montagem do gabinete ministerial deve levar a convocação de novas eleições nos próximos meses, o que aumenta o risco de que os dois partidos acima, considerados antissistema e céticos com relação à moeda única europeia, saiam ainda mais fortalecidos.
No FLAG FIC FIM, em consonância com o mandato de risco do fundo, num ambiente de grave piora política, reduzimos ainda mais as posições. No mercado de juros locais, o fundo tem apenas uma pequena posição comprada em NTN-B 2022. Vale destacar que, ao contrário da curva pré, a curva de juro real está achatada entre o segmento intermediário e longo. Avaliamos ainda que um juro real na casa de 5% para este vencimento embute um prêmio relevante e que a NTN-B deve-se beneficiar de um melhor carrego com a perspectiva de aumento de inflação no curto prazo. Além disso, é um ativo mais protegido para momentos de maior volatilidade. No mercado de juros externos, zeramos a posição tomada em juros europeus, tendo em vista os dados fracos de atividade na zona do Euro e o aumento do risco político na Europa com a crise na Itália, o que gerou um movimento de flight to quality. No mercado de moedas, mantivemos uma posição comprada em real contra o dólar, mas majoritariamente via put (com vencimento em agosto), o que limita eventuais perdas. Por fim, no mercado de renda variável, optamos por zerar a posição comprada em S&P 500 e continuamos a reduzir a posição comprada na bolsa brasileira, restando apenas uma pequena carteira de ações. Consideramos que o momento do país requer operar posições mais táticas do que estruturais.