Por que o juro longo não cai?
Quando eu tinha 7 anos, assisti à minha primeira Copa do Mundo, no México (1970), e nossa seleção sagrou-se tricampeã. Era a primeira vez que se transmitia uma Copa pela TV, em preto e branco, para nosso país. Mesmo eu sendo muito criança, comemorava as vitórias dos canarinhos efusivamente. Havia, àquela oportunidade, uma música que embalava os jogos; “90 milhões em ação, pra frente Brasil, salve a seleção”. Ganhamos ali, definitivamente, o título de país do futebol.
Este texto, contudo, não é sobre futebol e sim sobre economia. Mais especificamente sobre a nossa economia.
Não há como compararmos o Brasil da década de 1970 com o de agora, por óbvio. Todavia, há como compararmos o Brasil de agora com países de agora e, nesse quesito, estamos devendo. Olhando casos emblemáticos, como a Coreia do Sul, dá uma ponta de inveja, avaliando sob a ótica da evolução temporal, notadamente no quesito educação e produtividade.
Somos um país com enorme potencial, não somente futebolístico. Temos o 7º maior PIB, apesar de um IDH desapontador, face à enorme desigualdade de renda entre classes sociais. Na economia, nosso maior problema (em perspectiva) é, sem dúvida, um enorme buraco nas contas públicas. Recentemente, o Instituto Fiscal Independente, do Senado Federal, apontou (na CAE) que, para honrarmos o chamado “teto dos gastos”, necessitaremos cortar R$ 350 bilhões em gastos até 2030, o que equivale a 4% do PIB. É muito! A alternativa para que esse número seja menor é crescermos à velocidade chinesa o que, convenhamos, é impossível.
Como já mencionei em vários artigos aqui no blog, a Constituição de 1988 nos trouxe, no front econômico, alguns desafios. O principal é que constituímos um welfare state, que exige um financiamento elevadíssimo. O drama é que, como somos basicamente um país produtor de commodities, quando os preços estão favoráveis fica viável financiar o “bem-estar”; quando não estão, aí o Estado precisaria usar poupança prévia, mas que (quase) nunca é formada. O Brasil é um dos países que possui menor taxa de poupança no mundo.
A despeito de todo o esforço realizado nos últimos dois anos para realizarmos algum ajuste fiscal, estamos distantes de reverter o crescimento da relação dívida/PIB, que caminha para 80%. Sem uma mudança radical, daqui a uma década (ou até menos), atingiremos a marca de 100%. No caso de um país emergente, como nós, essa figura nos levaria, muito provavelmente, a uma situação de default de dívida. Eis aqui a minha explicação do porquê a taxa de juro longa, embutida nas NTN-Bs, está acima de 5% a.a., a despeito da queda de mais de 50% da SELIC, desde 2016. Lembremo-nos que, já em 2019, dependendo do desenrolar do cenário econômico, o governo terá necessidade de promover um shutdown em alguns ministérios (incluindo os mais importantes).
As eleições presidenciais se aproximam, onde teremos oportunidade de discutir o país que desejamos para o futuro próximo. O ajuste fiscal, mencionado acima, é imperativo. Como cortar os gastos, enquanto as receitas não crescem? É, sem dúvida, uma tarefa hercúlea que exigirá da sociedade um compromisso duro – que, historicamente, nunca quisemos assumir. Alterar a Constituição em tópicos como a Previdência não é uma escolha agradável, por certo. Sem ela, contudo, o sacrifício será abissal, pois a alternativa ao default será a inflação voltar para “resolver” os enormes desajustes.
Atualmente, somos mais de 200 milhões de brasileiros. O Ibope fez recente pesquisa que mostra que “apenas” 75% de nós estão interessados no Mundial da Rússia. Em outras Copas, o número era bem superior. Assim, o que essa pesquisa aponta? O desinteresse é por conta de um amadurecimento da sociedade, que já não releva assuntos que não afetam a sua vida cotidiana? À crise econômica, que reduziu a autoestima do povo? O 7×1 sofrido para a Alemanha em 2014? Ou será que mais próximo do pontapé inicial voltaremos nossos olhos para os gramados e cantaremos uníssonos “todos juntos vamos…”? A ver!