Bancos Centrais: Mudanças e Novos Desafios
Ao realizar sua última entrevista explicativa sobre as decisões do banco Central Americano, Janet Yellen se despediu no dia 13 de dezembro da presidência do Federal Reserve (Fed). Na ocasião, o foco girou em torno do “hike” de 0,25%, levando a taxa de juros americana a 1,50%, decisão que já era esperada por investidores e está alinhada com a gradualista normalização da política monetária.
Nessa entrevista, foi questionada sobre a reforma tributária do presidente Donald Trump e como isso afetaria o posicionamento do FOMC (Federal Open Market Committee). Yellen disse que, com a aprovação da reforma, é estimado que o consumo das famílias aumente, junto com elevação dos investimentos. Mesmo com o projeto de redução de impostos, as projeções continuam apontando três aumentos dos juros em 2018. Isso ocorre porque o Fed tem um cenário gradualista em mente, onde a economia americana está crescendo levemente acima do seu potencial e a taxa de desemprego está abaixo do que deveria estar. Por isso, em algum momento, a inflação terá de aumentar, e consequentemente, levar à elevação da taxa de juros.
O cargo deixado por Yellen será assumido pelo advogado Jerome Powell, que faz parte do board de governadores do Fed desde 2012 e foi indicado por Trump para presidir o mesmo. O principal contratempo de Powell será comandar sua equipe, pois Trump deverá nomear 6 dos 7 membros da direção do Fed apenas em fevereiro. Por conta disso, as próximas nomeações serão deveras importantes, podendo levar à afinação ou ao caos.
O mais interessante nisso tudo é que a tendência de normalização da política monetária não é privilégio apenas dos EUA. Outros bancos centrais de peso também estão no processo. Mas o que é a normalização? Tratam-se de medidas que têm por objetivo fazer com que os bancos centrais voltem a níveis anteriores ao da Grande Recessão. Entre elas, temos: gradual aumento nas taxas de juros de curto prazo; redução no tamanho do balanço dos bancos centrais; mudança na composição dos ativos para níveis anteriores à crise, tratando-se da redução da maturidade média dos ativos, e a transição para um portfólio que consiste principalmente por títulos do tesouro.
Portanto, em 2018 é esperado que Fed, Banco da Inglaterra, Banco Central Europeu e outros tenham uma postura diferente dos últimos 9 anos, o que envolve desde uma maior moderação na compra de títulos até o aumento nas respectivas taxas de juros.
É esperado que o Fed continue sendo o mais avançado no processo de normalização, mantendo o gradual aumento na taxa de juros, redução na compra de ativos e gradual diminuição do seu balanço. Já o Banco Central do Japão (BoJ) está enfrentando pressão para reduzir os estímulos à economia, tendo agora de pensar em como moderar seu programa de compra de ativos e provavelmente alterar sua meta de taxa de juros de 10 anos para um número maior (atualmente encontra-se em 0%). As medidas do BoJ dependem principalmente da eficácia da implementação de políticas domésticas do Primeiro Ministro Shinzo Abe.
O Banco Central Europeu (ECB) deve tentar seguir com o plano que anunciou recentemente, reduzindo pela metade suas compras mensais para 30 bilhões de euros até setembro, indicando o fim do programa de compra de ativos em larga escala, e, no futuro, um aumento na taxa de juros, retirando a mesma da zona negativa. Entretanto, alguns investidores têm incertezas em relação ao posicionamento do ECB, pois há opiniões internas conflitantes a respeito dessas medidas, que dependem, principalmente, do comportamento da inflação na Zona do Euro. Caso a inflação suba mais rápido do que o esperado, terão de antecipar seus movimentos.
Em relação ao Banco da Inglaterra (BoE), este encontra-se num dilema. Suas projeções de crescimento vêm sendo revisadas para baixo, o que deveria ser combatido com uma redução na taxa de juros para estimular a economia. Mas, na contramão, temos a inflação, que se encontra acima da meta, fazendo com que seja necessário um aumento na taxa de juros para controlá-la. Além disso, é válido lembrar que o BoE foi forçado a realizar um aumento na taxa este ano, novidade para o mesmo, o primeiro “hike” em 10 anos. Assim, embora seja necessário manter o nível de preços estável, coloca-se em perigo a economia, que pode sofrer um slowdown. É válido ressaltar, ainda, que todos esses fatores são agravados pelas incertezas causadas pelo Brexit.
Em suma, temos bancos centrais com perspectiva para reduzir os estímulos à economia, processo que precisa ser feito de forma lenta e gradual. Caso contrário, o mercado pode reagir de forma inesperada. Além disso, os países emergentes sofrem com essas medidas, pois os investidores tiram o dinheiro do país para aplicar em locais onde a taxa esteja mais alta.
O caso brasileiro é ainda mais nebuloso. Fora a elevação da taxa externa, nossa taxa básica de juros, a Selic, encontra-se em 7% ao ano, mínima histórica desde a adoção do regime de metas para a inflação, em 1999, intensificando ainda mais o fluxo de capital em direção ao mercado externo. Tendo em vista todos estes fatores, vemos que o ano de 2018 não será fácil, tampouco previsível para toda a economia global.
Danilo Vasconcelos
membro de Finanças Corporativas do CEMEC.
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