O futuro do Brasil em um cenário conturbado
Na última semana, um acontecimento surpreendeu todo o Brasil e gerou repercussão mundial. Trata-se do depoimento de 7 executivos da JBS – incluindo os controladores do grupo, os irmãos Joesley e Wesley Batista -, a maior produtora de carnes do mundo, que comprometeu alguns nomes públicos, como o do presidente da República Michel Temer e o do senador Aécio Neves, um dos principais nomes do PSDB. Alguns outros nomes também foram citados, como os dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff e do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, acusado em escândalos de corrupção que o levaram à prisão.
Mas de que forma o depoimento da JBS como um grupo afeta o cenário político-econômico brasileiro atualmente?
Antes de explicar este ponto, torna-se necessário analisar a conjuntura do país. O início do atual momento teve início em 2016. A então presidente Dilma foi acusada de cometer crime de responsabilidade fiscal, o que levou ao seu impeachment e, por consequência, ao mandato de Michel Temer, então vice, como presidente de República. O momento reuniu opiniões diversas entre a população, mas pouco a pouco a situação foi se amenizando.
Assim que assumiu, ainda temporariamente, Temer nomeou novos ministros e uma nova equipe econômica, que adotou como meta o corte de gastos do governo, a fim de recuperar o país da crise econômica que vinha afetando toda a população. Com apoio do Congresso, as medidas pretendidas pelo governo foram sendo aprovadas e a confiança de investidores foi aumentando à medida que indicadores macroeconômicos evoluíam e as projeções para a economia brasileira foram melhorando. O resultado dessas medidas também foi visto no Índice Bovespa (Ibovespa), que, com o passar dos meses, foi se aproximando novamente dos 70 mil pontos.
Diversos analistas ainda projetavam, para os próximos meses, uma maior valorização do Ibov, em virtude do aumento da confiança dos investidores no Brasil, impulsionado, também, pela expectativa de aprovação de novas medidas pelo Congresso Nacional, em especial as reformas da Previdência e Trabalhista.
Contudo, a delação da JBS colocou em risco toda essa perspectiva.
Na noite de 17 de maio foram divulgadas notícias que colocariam Temer em uma situação complicada. Diversas suposições começaram a surgir e, em poucas horas, o assunto já era discutido por todo o país e ganhava repercussão internacional. Como o mercado já estava fechado, as expectativas para o dia seguinte foram sendo mais negativas a cada hora que passava.
Como era esperado, o dia 18 começou agitado, com mandados de busca e apreensão em propriedades do senador Aécio Neves e a prisão de sua irmã por suposto envolvimento em corrupção. Em virtude das acusações, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin proibiu Aécio de deixar o país e suspendeu suas funções legislativas, afastando-o do cargo de Senador. O procurador geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão do mesmo, acusado de obstrução da justiça, corrupção passiva e organização criminosa após a delação da JBS, mas o pedido não foi atendido pelo STF.
O maior impacto no cenário interno se deu mais em virtude do envolvimento do nome de Temer. De acordo com Joesley, Temer teria consentido com pagamento de propina a Eduardo Cunha, preso pela Lava-Jato, a fim de evitar uma possível delação do ex-deputado. Com isso, na abertura do mercado no dia 18, a gravidade do assunto pôde ser vista: papéis despencando, fazendo o Ibov atingir queda de 10% e levando a um circuit breaker.
A principal questão agora é a quebra de expectativa com relação à economia brasileira. O cenário brasileiro mudou, em menos de um dia, de perspectivas de crescimento econômico e recuperação do país para dúvidas quanto à aprovação de reformas consideradas cruciais para uma maior responsabilidade fiscal do Brasil e que vinham sustentando a expectativa de melhora econômica.
No decorrer do dia, foi veiculada na imprensa uma possível renúncia de Temer. A ansiedade aumentou após pessoas ligadas ao presidente afirmarem que o mesmo daria um depoimento à tarde. Contudo, Temer negou qualquer participação de seu nome em casos de corrupção e afirmou que não renunciaria.
Os partidos de oposição protocolaram pedido de impeachment de Temer. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) anunciou que também apresentará um pedido de impedimento à Câmara dos Deputados. Alguns especialistas já alertam para a perda de apoio de Temer no Congresso, chegando os relatores das reformas Trabalhista e da Previdência a afirmarem que, atualmente, não existem condições para a votação das respectivas propostas.
O ponto é que, com Temer saindo do cargo ou não, a incerteza é grande.
Caso Temer continue, pode-se ver um presidente que perdeu apoio do Congresso e que, por isso, não consegue mais aprovar suas medidas, antes vistas como solução para os problemas econômicos brasileiros. O resultado disso para o Brasil? Perda de confiança dos investidores e possíveis pioras nos indicadores macroeconômicos.
Caso Temer abandone ou seja impedido de exercer o cargo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, assume temporariamente e convoca eleições indiretas. Quem seria o novo presidente da República e quais políticas econômicas o mesmo adotaria?
Diante disso, percebe-se o quão delicada é a situação atual do Brasil. Agora, só resta esperar os próximos acontecimentos em Brasília e torcer para que toda a situação se resolva, dentro da lei, o mais rapidamente possível. Assim, as perspectivas para o país poderão voltar a ser positivas e, assim, o Brasil voltar ao crescimento econômico e melhora de seus indicadores internos.
Pedro Guerra
Estudante de Economia do IBMEC. Membro da área de Análise Macroeconômica do Cemec, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.