Hora de Parnasianismo
Durante anos escrevi poesias. Aprendi que as mais refinadas, aquelas que recebem as boas críticas, são as compostas com versos elaborados com rimas ricas, as quais se diferenciam das pobres pelo emprego de palavras com classes gramaticais diferentes.
Infelizmente, a eleição presidencial do ano que vem já é assunto predominante. Jornais, articulistas políticos, consultores especializados e programas de TV tentam deslindar o confuso “xadrez eleitoral”, fruto das inúmeras operações em curso da Polícia Federal, agravado pela tal lista do procurador Janot.
Os postulantes ao Planalto são tantos, que, metaforicamente, formam uma miríade. Os principais nomes são: Lula, Geraldo Alckmin, Aécio Neves, José Serra, Ciro Gomes, Marina Silva, João Dória, Henrique Meirelles, Jair Bolsonaro, além do próprio Michel Temer (isso para mencionar os principais). Mas a disputa, de fato, deve ficar restrita a uma tríade. Lula é o que parece ter mais pressa de se lançar candidato, haja vista a matéria publicada no jornal Valor Econômico desta semana, relatando os rotineiros encontros de economistas com o ex-presidente, a fim de rascunharem sugestões de políticas econômicas a serem adotadas caso ele retorne, pela terceira vez, à cadeira de mandatário da nação.
Mas será esse o principal problema do país para 2018? A eleição?
Gostaria de dividir com o leitor meu grande receio em relação ao ano que vem, aquele evento que tem potencial de desestabilizar os mercados locais (talvez mais do que o próprio certame presidencial): em 2018, haverá indicação para a presidência do Fed (banco central americano). Em minha visão, muito provavelmente o presidente Donald Trump não reconduzirá a atual chairwoman, Janet Yellen, ao cargo. Em outras palavras, haverá (muito provavelmente) uma substituição no principal posto da economia global.
A mudança, em si, não é o problema maior. O preocupante é quem será o novo ocupante (a rima é proposital, e peço desculpas pelas aliterações num artigo). Trump, durante a campanha, foi um crítico duro e contumaz à política monetária conduzida por Yellen, que, segundo ele, vem provocando uma nova bolha nos mercados. Assim, é pouquíssimo provável que mude de opinião e a mantenha no comando do banco central. Minha aposta é que o novo presidente do Fed não será um especialista em economia monetária. Não tem sido hábito do novo presidente americano indicar acadêmicos para serem seus assessores. É provável que sua escolha recaía sobre um ex-banqueiro de Wall Street ou alguém do métier.
A despeito de ser professor de Economia, não tenho preconceitos se a escolha for feita por pragmatismo. O ponto central aqui é como será a condução da saída dos quantitatives easing (QEs) usados em profusão (pós-crise de 2008) por Ben Bernanke e que Yellen herdou ao assumir o comando da instituição. Lembremo-nos que a diretoria atual do Fed vem conduzindo com maestria a inflexão na sua política monetária, sem causar sobressaltos no mercado.
O pior cenário de todos seria um escolhido tolhido (outra rima) de poder. Se supusermos, por hipótese, que a nova direção do banco central americano acelere a saída dos QEs (o que me parece o desejo do presidente), teremos juros mais elevados no curto prazo, o que “empinará” além do previsto a curva de rendimentos no longo prazo. Tal situação determinará um preocupante rearranjo de capitais globais espalhados mundo afora. Não podemos esquecer que bilhões e bilhões de dólares foram “passear”, atrás de yields maiores, e que tenderão a voltar mais rapidamente para “casa”.
Nesse quadro de liquidez adverso, os países que não fizerem o dever de casa sofrerão mais do que aqueles que estão em boas condições macroeconômicas. De outra forma, os países que possuem grau de investimento (IG) serão, provavelmente, menos afetados. Vale lembrar que o Brasil perdeu seus IGs nos anos recentes e não há no horizonte, até onde a vista alcança, perspectiva de retorno.
O que estou tentando dizer, de forma mais clara, é que se nosso país não fizer os ajustes que urgem, poderemos ter uma situação muito complexa em 2018: uma eleição presidencial, num ambiente de crise cambial (nova rima). Obs: como todos sabem, mercados antecipam os eventos; não pense que é cedo para discutir esse assunto.
Olavo Bilac, no auge do parnasianismo, escreveu: o poeta trabalha, e teima, e lima, e sofre e sua. É hora de perseverança e atitude firme diante dos desafios. Se fraquejarmos, o ambiente para 2018 será incerto, e a eleição pode trazer muita volatilidade, atrapalhando a esperada retomada do crescimento. Economia, como a poesia, prefere riqueza à pobreza. Mas só a conquistaremos trabalhando, teimando, limando, sofrendo e suando.