Chile: uma potência imersa em incertezas
Considerada uma das economias mais fortes da América do Sul, o Chile está passando por uma desaceleração econômica e, apesar de apresentar vários indicadores de dar inveja a seus vizinhos, ainda tem um caminho a trilhar, se quiser se firmar como destaque mundial.
Os principais setores da economia chilena são o industrial e o de serviços, e as suas principais atividades econômicas são exploração de minérios, principalmente cobre, produção de manufaturados e agricultura. Um de seus maiores desafios tem sido o preço do petróleo, que, aliado aos altos custos de produção de energia, são uma âncora na expansão e no barateamento dos custos do setor industrial. Essa adversidade tem feito o país investir em energias renováveis, e é esperado que, até 2020, elas correspondam à cerca de 20% da produção de energia do Chile.
Outro desafio vivido pelo décimo lugar do mundo no ranking de liberdade econômica é a queda no PIB. O país vinha apresentando crescimento acima de 4% ao ano desde 2004, excluindo os anos da crise econômica internacional de 2008 e 2009, até que uma desaceleração econômica fez com que, em 2014, o aumento fosse de “mero” 1,9%.
Em março de 2014, Michelle Bachelet assumiu o cargo mais importante do poder executivo chileno, sob a promessa de um pacote ambicioso de reformas em educação, saúde e proteção social. Porém, a geração de emprego caiu, e a projeção de crescimento do país diminuiu. A inflação no Chile aumentou, e o PIB apresentou um crescimento pequeno comparado ao que o país vinha experimentando. Enquanto o governo alegava que isso era consequência do cenário internacional conturbado e da queda do preço do cobre, que representa aproximadamente 50% de suas exportações, a oposição criticava duramente a presidente e suas reformas, que, segundo eles, teriam trazido instabilidade e incerteza para o mercado.
Visando seu pacote de reformas, principalmente o projeto de educação, Bachelet propôs uma reforma tributária que, além de aumentar a arrecadação do governo, também tornaria mais difícil a evasão fiscal. Mesmo com a maior arrecadação, as reformas da presidente não foram cumpridas inteiramente, o que gerou descontentamento popular.
Além disso, a presidente teve seu nome ligado a um esquema de corrupção envolvendo seu filho mais velho e sua nora, que estão sendo investigados por, supostamente, terem usado informações privilegiadas e tráfico de influência para revender terrenos por um preço elevado, após um projeto de reutilização do solo. O nome da presidente também foi citado em outro caso de corrupção, dessa vez envolvendo uma das principais holdings do país, que estaria sendo acusada de doações ilegais de campanha, notas fiscais adulteradas e dribles ficais. Para alguns, esse é o maior caso de corrupção no Chile, tornando o cenário doméstico extremamente frágil.
Como consequência, a aprovação de Bachelet está abaixo dos 20%, e os resultados das eleições municipais realizadas em outubro de 2016 preocuparam a atual presidente. A coalizão formada pela oposição ganhou nas principais cidades do país, incluindo a capital, Santiago.
Um dos recentes abalos econômicos passados pelo Chile foi a saída dos Estados Unidos do Acordo de Associação Transpacífico, que, antes de perder esse membro, reunia 40% da economia mundial. Apesar de um primeiro abalo negativo a partir da decisão de Donald Trump, o “fechamento” da economia norte-americana teve como resposta uma proposta de maior aproximação com a Argentina e os países do Mercosul. Caso os países sul americanos realmente estreitem seus laços econômicos, isso pode tornar o cenário mais interessante para o Chile.
Com um horizonte incerto na política (principalmente) e na economia, o Banco Mundial prevê um crescimento entre 1% e 3% anualmente para o Chile até 2019, resultado ruim se comparado ao do começo do século 21. Resta esperar para saber se as previsões estão corretas ou se o Chile conseguirá se reerguer mais rapidamente do que o previsto, mesmo com tantas adversidades.
Julia Penalva: Estudante de Economia do IBMEC. Membro da área de Back Office do Cemec, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.