Trump: Expectativa ou realidade?
Historicamente, logo após o resultado da eleição norte-americana ser divulgado, quando há mudança partidária no controle (Republicanos para Democratas ou vice-versa), os principais índices tendem a estressar e geralmente nos primeiros meses acabam por cair devido à expectativa que uma mudança de controle pode levar. Todavia, com Donald Trump, atual quadragésimo quinto e atual presidente dos E.U.A, os mesmos só aumentaram, chegando a romper altas históricas diversas vezes até hoje. Muitos ainda têm dúvidas do por que Trump levou a esses níveis mesmo sendo tão controverso e polêmico. Muitos também super precificaram Donald Trump como o “salvador” dos E.U.A., mas será que ele é isso tudo?
A maior (e talvez única) razão que muitos justificaram a eleição de Trump como presidente seria a de “Não é a Hillary”. Tal justificativa se torna muito justa até, caso tornemos a lembrar dos últimos momentos das eleições, onde Hillary estava sendo investigada por diversos casos pelo FBI, casos que poderiam levar a prisão da mesma, o principal foi o envio de e-mails com informações sigilosas de sua conta de e-mail pessoal, quebrando diversas normas pró sigilo.
Não obstante, muitas de suas “propostas” poderiam levar a colapsos em diversos setores, tal como healthcare, cujo a mesma costumava (como Trump hoje) escrever em seu Twitter falando da má precificação de remédios e que se a mesma fosse eleita chegaria à um “preço justo” para os mesmos, tal fato acarretou no derretimento do setor de healthcare, refletido pela queda de mais de 10% da ETF XLV (ETF do setor de healthcare norte-americano). Entre outras medidas da mesma que acabariam por colapsar diversos setores. Trump então apareceu como o “não” a Hillary e como “salvador” para muitos, devido ao seu estilo conservador protecionista e seu forte desejo “nacionalista”, com sua promessa “Make America Great Again”, mas será que a América está “great again”?
Claramente a mesma ainda não se encontra nos padrões tão almejados pelo presidente, fato tal refletido pelo FED (Federal Reserve), com seu discurso “cuidadoso” em relação a possibilidade de aumento na meta taxa de juros, a mesma hoje se encontra em 0,75% (meta) e havia a possibilidade do aumento para 1% caso as metas estabelecidas pelo FED se confirmassem. Tais metas são um conjunto de indicadores econômicos que formam um cenário de melhorara para os EUA. Mesmo com os mesmos indicadores muitas vezes se encontrarem acima do esperado, o FED ainda se mantém deveras cauteloso principalmente pela sua percepção de risco internacional e doméstico (que pode ser gerado pelo atual presidente norte-americano e sua administração).
Sabendo do alto “hype” internacional perante suas promessas, logo nos primeiros dias Trump já começava a realizar algumas, como a saída do Tratado de Associação Transpacífico (TPP em inglês), o banimento de islâmicos do EUA, o “muro”, a saída da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a troca do Obamacare (programa de assistência médica implementado pelo último presidente Obama) e claramente o mais esperado, o programa de reformulação de impostos que de acordo com o mesmo não é visto desde Reagan (quadragésimo presidente norte-americano), o qual tomou um plano econômico de corte de impostos e de crescimento econômico conhecido como “Reaganomics”. Mas será que Trump está cumprindo todas as suas promessas com louvor, e o mais importante com apoio do Capitólio (centro legislativo dos EUA)?
O apoio tanto do Senado quanto da Câmara em seus projetos é parcial. Visto que mesmo em sua eleição, muitos republicanos preferiam não votar nele, se mostrando deveras contrários à sua “visão”. Ou seja, mesmo com maioria Republicana em ambas as casas, Trump ainda depende de apoio parcial Democrata devido ao “não apoio” de alguns Republicanos. Falando um pouco do que foi concluído, somente a saída da TPP procedeu sem “alardes” ou reformulações. Tanto a proposta do banimento quanto o muro ainda se encontram tramitando. No caso do banimento, o atual presidente assinou uma ordem proibindo a entrada de islâmicos provenientes de 7 nações nos EUA (coincidentemente nenhuma das mesmas Trump possui negócios de sua companhia), porém a mesma sofreu rapidamente repudia e foi barrada pela suprema corte, com decisão unânime pela retirada da mesma. Atualmente a gestão se encontra reformulando a mesma visando refaze-la agora só proibindo a entrada daqueles que não tiverem o seu VISA em dia ou que nunca tenham entrado nos EUA.
Sobre o muro, o custo do mesmo foi levantado pelo Bloomberg em torno de 25 bilhões de dólares, levando 2-3 anos para ser concluído, Trump ainda procura apoio no Senado para levantar fundos para a construção dele, e posteriormente o pagamento por parte do México, o Presidente ameaçou o país latino com até 20% de tarifas em produtos importados do mesmo (tal feito seria uma perda enormes para ambos os lados), levando o peso mexicano a patamares substancialmente baixos. A construção e o pagamento do muro ainda tramitam e se encontra em “espera”.
Sobre a possível saída da OTAN, Trump defendia fielmente que a mesma “custava” muito para os EUA e não gerava benefícios tão grandes, portanto tinha objetivos de sair, criticando a administração da mesma e levando a diversos embates e até medo por parte dos outros membros da OTAN perante a saída da maior economia do mundo da mesma. Tal fato levou o vice-presidente Mike Pence a se reunir com diversos líderes buscando acalmar os ânimos de todos. Portanto a possibilidade que começou sendo colocada como certa agora se encontra como muito improvável. O Obamacare por sua vez se mostra deveras adiantado, com o Senado tomando a dianteira na reformulação dele, ou no caso, substituição. O mesmo já está quase concluído e deve ser bem mais criterioso que o Obamacare para a seleção dos seus assegurados, diminuindo drasticamente o número de pessoas asseguradas pelo programa.
Em relação ao tão falado plano de cortes de impostos, a expectativa é que o mesmo só comesse a aparecer em meados de maio, com a atual entrevista do Secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, em que ele defende que os impactos trazidos pelo novo programa devem impulsionar o crescimento norte-americano em “no mínimo 3%”, uma meta no mínimo ousada, visto que o mesmo não se encontra em tais patamares desde 2011, levando certa descrença de muitos perante a atual administração e suas metas, porém, tal plano serviu para aumentar ainda mais o “rally” dos principais índices norte-americanos e principalmente do setor financeiro.
Outro grave problema enfrentado por Trump, além de escândalos e certa desordem dentro da Casa Branca, é ainda a falta de sua equipe completa de Secretários, onde alguns ainda recusaram o convite do presidente e outros foram negados pelo Senado. Mostrando então que mesmo com o convite de secretários, muitas personalidades preferem se ausentar de tal cargo perante a administração vigente, o que aumenta ainda mais o risco doméstico enfrentado pelo mesmo e a insegurança. Tais problemas levam cada vez mais o mundo a enxergar Donald Trump como “o Presidente dos EUA”, mas sim como “um Presidente dos EUA”, mostrando cada vez mais seu despreparo para tal função e sua imaturidade perante algumas questões rotineiras de políticos de alto escalão. Mesmo com somente 2 meses de gestão, muitos ainda não conseguem abraçar a causa dele, e se recusam a aceita-lo como presidente. Portanto é visto que Trump aparenta ser mais expectativa que realidade.
Arthur Lemos: Estudante de Economia do IBMEC. Chefe da área de Análise Macroeconômica do Cemec, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.