Luz Amarela
Semana passada, as aulas começaram na faculdade. Início de semestre é sempre interessante, à medida que jovens estão ingressando no ensino superior; uma nova e fundamental etapa de suas vidas, da qual tenho a honra de participar como professor. Para a grande maioria, essa mudança funciona como uma espécie de choque de realidade, inclusive porque estão (a maioria) ingressando na idade adulta (18 anos). Ou seja, antes viviam numa espécie de redoma, protegidos pelos pais e, agora, serão responsáveis pelos seus próprios atos.
Como leciono matérias de Economia no 1º período, percebo que muitos desses jovens estão curiosos para entender o momento presente. Querem compreender o “trumpismo” e as novas direções políticas, uma vez que, em 2017, teremos importantes eleições na Europa e algumas já mostram a provável vitória da direita mais radical.
Explicar o momento atual é desafiador até para um analista de mercado. Imagine esclarecer o fenômeno Trump para um jovem de 18 anos. Tarefa hercúlea!
Tanto o Brexit como a eleição de Donald Trump para presidência dos EUA são respostas antiglobalização. Um fenômeno ainda pouco compreensível para muitos, mas que possui uma lógica fundamental: a crise de 2008 e a destruição de empregos nos países centrais.
A globalização, que emergiu na década de 1980 (se intensifica na década seguinte, pós queda do muro de Berlim), trazia um encanto: um mundo sem barreiras comerciais, onde todos sairiam vencedores. Ou seja, de outra forma, a globalização era um jogo de “ganha-ganha”.
A vitória de Trump é uma facada nesse modelo tal qual foi concebido e adotado nos últimos trinta anos. Nesses primeiros dias de governo, Trump já apontou para uma uma reversão das condições vigentes do comércio internacional americano (fim do TPP, por exemplo), além de confirmar seu discurso protecionista contra a China e o México (sem contar a lei anti-imigração). Ademais, vem sinalizando que sua promessa de campanha “american first” não era apenas retórica de candidato.
Para angariar a simpatia das grandes corporações, sem as quais teria mais dificuldades, Trump promete uma redução expressiva de impostos para as empresas. Para deleite dos operadores e banqueiros, prometeu derrubar aspectos-chaves da Lei Dodd-Frank, retirando grande parte da regulação mais apertada imposta por Obama (quando eclodiu a crise de 2008). Não contente, sugere aumento expressivo de investimentos em infraestrutura, o que potencialmente alavancará o crescimento da economia, gerando maiores lucros corporativos.
Com essas medidas, os índices acionários americanos foram catapultados a patamares inimagináveis. Estão todos no “all time high”, subindo todos os dias, como se não houvesse amanhã. Quero sugerir cautela! Alguns parâmetros de mercado, que acompanho há muitos anos, já sinalizam que esses valores atuais estão absolutamente exagerados. É como brincar na beira do precipício. Só para citarmos: Relação Preço/Lucro em 20 anos e VIX (indicador de volatilidade) nas mínimas: luz amarela!
Para finalizar, no eBook 2017, que preparamos especialmente para os clientes da Órama, a previsão é que o nosso Ibovespa atingiria, ao longo do ano, o patamar entre 68 mil e 72 mil pontos. Em apenas pouco mais de um mês, o mercado já atingiu esse limite inferior e o dólar caiu para próximo de R$ 3. Se, por acaso, houver uma reversão desse “oba-oba” em relação à administração Trump e as bolsas americanas apresentarem uma forte correção, nosso mercado sofrerá igualmente. Assim sendo, se você quer estar posicionado na bolsa, sugiro que o faça através de fundos administrados por bons gestores, que saberão agir para protegê-lo de um eventual revés. Um revés que, apesar de temporário, tem potencial para “machucar”.