O preço do petróleo: justiça ou manipulação?
No final de 2016, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) fechou um acordo de corte de produção do petróleo, o primeiro desde o ano de 2008. Ficou acordado que a produção passaria dos 33,7 milhões de barris diários para 32,5 milhões, uma queda de 3,56%. Mas por que a organização, que conta com 13 países, iria querer essa redução? A resposta é simples: acabando com o excesso de oferta, o preço da commodity tenderia a uma alta.
Parece simples, como um jogo de tabuleiro infantil, onde os dados são jogados e os movimentos respeitam as regras. Contudo, na prática não tem sido algo tão trivial.
Isso ocorre, principalmente, pelo fato de a OPEP não ter monopólio sobre a geração mundial do petróleo. Com isso, nem todos os países exportadores estão de acordo com a decisão. A Rússia, apesar de não fazer parte da organização, concordou em reduzir sua produção em 300 mil barris por dia. Entretanto, existem outros grandes players do mercado que não participaram do acordo e estão tirando proveito do mesmo. É o caso de Estados Unidos, Europa e China, potências que se aproveitaram da alta no preço para vender a commodity e lucrar mais com isso.
Quando alguns países reduziram suas exportações, o preço do petróleo se elevou (como era esperado), mas abriu-se um gap na demanda dos que importam os barris. A ideia de EUA, Europa e China é suprir esse gap e exportar para países que se prejudicaram com o acordo. Sendo assim, o primeiro tem aumentado sua produção, e os outros dois estão batendo recordes de exportação para países asiáticos, o que causa dúvidas sobre a efetividade do acordo realizado pela organização.
Além disso, alguns países da OPEP começam a sofrer acusações de não cumprir com decisão, fortalecendo ainda mais os questionamentos sobre um possível aumento no preço do petróleo.
A começar pelo Irã, que foi isento do acordo para recuperar sua participação na exportação e autorizado a aumentar sua produção para 3,9 milhões de barris por dia, como compensação pela perda de mercado decorrente de sanções nucleares do Ocidente. A Líbia, também isenta, vem aumentando significativamente sua produção nos últimos meses, retomando, inclusive, a produção no seu maior campo petrolífero após anos de conflito interno.
Outra situação preocupante é relativa ao Iraque, segundo maior produtor de petróleo da OPEP. O país possui contratos com empresas petrolíferas estrangeiras para operarem alguns de seus campos, o que pode ser um empecilho no corte de barris diários, uma vez que essas companhias não querem perder parcelas em seus lucros. Além disso, cogita-se um possível planejamento iraquiano para aumentar a produção em fevereiro, causando grandes danos ao acordo realizado em novembro do ano passado. Apesar disso, o governo diz que o país já cortou 160 mil barris por dia desde o início de janeiro, fazendo valer o acordo entre os países membros da OPEP.
Mas afinal, o que acontecerá com o preço do petróleo? Ainda não se sabe. O que já começa a ser apontado por alguns analistas é que o preço do barril está acima do devido, graças ao cenário conturbado, em que os países divergem quanto a decisão de controlar a produção ou não. Assim, já se ouve falar de fracasso no acordo da OPEP, em grande parte por não ter efetivamente a contrapartida de outros países, o que pode não só impedir a alta no preço, mas também fazer a commodity entrar em uma tendência de baixa.
Pedro Guerra
Estudante de Economia do IBMEC. Membro da área de Análise Macroeconômica do Cemec, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.