Eleição Americana
Desde quando os candidatos à eleição americana foram escolhidos pelos seus respectivos partidos que os mercados financeiros a consideravam um “não-evento”. O motivo para esse “dar de ombros” incompreensível era que havia um consenso de que a candidata democrata, Hillary Clinton, venceria seu oponente, Donald Trump, com certa facilidade.
Na verdade, nem um nem outro candidato desperta paixões nos americanos. Pelo contrário, as pesquisas apontam um elevado nível de rejeição a ambos, o que não é muito comum nas eleições de lá. Todavia, diante do inexorável, Hillary teria uma aceitação maior, por conta do eleitorado feminino, bem como por ser a preferida do establishment. Colocando de outra forma, Wall Street nunca cogitou uma vitória de Trump.
O magnata republicano ficou famoso por seu programa televisivo, “o Aprendiz”, não sendo, portanto, aquilo que se chama de “político convencional”. Era um outsider, sem grande chance de vitória dentro do próprio partido. Porém, ao conquistar a maioria dos delegados (conseguindo a indicação para a disputa), virou um problema.
Trump tem provocado a ira das feministas e dos grupos mais liberais. Tem manifestado uma posição preconceituosa em relação aos hispânicos. Defende a tese de que se faz necessário um muro na fronteira com o México e que é preciso vetar a entrada de muçulmanos nos EUA. Para piorar, quer impor barreiras ao comércio com a China, um importante parceiro comercial e que detém grande parte dos títulos públicos emitidos pelo Tesouro americano. Além disso, vem manifestando simpatia pelo rival russo, Vladimir Putin, o que desagrada os aliados americanos da OTAN.
Numa situação normal, existiriam dois cenários possíveis. Todavia, temo que haja um terceiro, muito complexo. Vamos a eles: 1) Vitória com certa folga de Hillary, o que seria favorável para os mercados, que provavelmente reagiriam positivamente; 2) Vitória de Trump, que poderá provocar um tremendo estresse; um “derretimento” de cotações, especialmente porque as bolsas americanas estão próximas de seus “highs”; 3) Uma vitória de Hillary por margem muito estreita de votos, que poderia levar o republicano a contestar o resultado, pedindo recontagem das urnas ou até mesmo levando o caso para os tribunais, pedindo a anulação do pleito. Nesse último caso também a resposta dos mercados seria, muito provavelmente, péssima, com quedas expressivas de cotações.
Nos últimos dias, as pesquisas de opinião apontam para um surpreendente empate técnico, o que provocou arrepios nos investidores, afetando as bolsas de valores e os mercados em geral. Se Trump efetivamente surpreender e, num sprint final, derrotar sua oponente (preferida do mercado), o que esperar? Certamente, os preços dos ativos estão longe de embutir tal hipótese.
Falta pouco para a decisão. Muitos americanos votaram antecipadamente, ainda no tempo em que Hillary liderava as pesquisas. Mas isso não significa que ela já tenha levado. O grave é que o resultado pode ter implicações sérias sobre a economia, pois Trump é um ferrenho crítico da política monetária conduzida pela presidente do Fed, Janet Yellen. Alguns analistas dizem que, no limite, ela poderia renunciar em caso de vitória dele, o que seria bastante ruim.