Aflições Externas
Pesquisa realizada por uma rede de TV americana, logo após encerrado o debate entre os candidatos à presidência dos EUA, na noite de segunda-feira passada, apontou que 60% dos entrevistados acreditavam que Hillary Clinton venceu seu oponente, Donald Trump.
Penso que existam muitos riscos associados à economia global neste momento. A eleição americana é somente um deles (talvez nem o mais importante).
Como já escrevera num artigo anterior, os mercados financeiros estão dando de ombros (ainda) para uma possível vitória do candidato republicano. Mal comparando, enxergo a situação atual como aquela vivida meses antes da primeira eleição vitoriosa de Lula, no início dos 2000. Ali, os mercados locais desconsideravam a vitória petista, dando como certa a ida de José Serra para o Planalto. De uma hora para outra, no entanto, Lula escreve a famosa “Carta aos Brasileiros” e sua posição nas pesquisas se consolida na dianteira. Naquele momento, a taxa de câmbio vai para R$ 4, uma desvalorização abrupta de quase 50% em poucos dias. Caiu a ficha!
Trump é um homem midiático, sem experiência política e que gosta de se envolver em “bolas divididas”; uma estratégia que ninguém sabe, ao certo, se funcionará. No debate de segunda, por exemplo, criticou duramente a política comercial americana e, sobretudo, a condução de Janet Yellen à frente do FED. Segundo sua análise, Yellen infla, com sua política monetária, uma enorme bolha de ativos, que irá “explodir” logo, logo.
Os dois candidatos não são unanimidade entre os americanos. Pesquisas indicam que ambos enfrentarão turbulências depois das eleições. Todavia, pela experiência pregressa na política, o mercado financeiro advoga a tese de que Hillary seria mais “palatável” do que o magnata bufão, que domina as câmeras televisivas (por conta de sua longa experiência com o “The apprentice”), mas que seria uma incógnita como “comandante em chefe”.
Uma eventual vitória de Trump não está, nem de longe, nos preços dos ativos (em geral), muito menos nas ações de Wall Street. Tenho, contudo, convicção, de que uma vitória democrata não é garantia de que as cotações das ações, que estão em seu nível máximo histórico, sejam “música” para os ouvidos dos investidores. Usando uma metáfora: o mercado está andando na beira do precipício…
Além das urnas americanas, nutro dois outros temores em relação à economia global. Um deles é o espectro de 2008 rondando o importante banco alemão Deustche Bank. Sua cotação vem desbando nas últimas semanas, atingindo mínimas atrás de mínimas. Seu nível de alavancagem é perto de 25x, enquanto o de bancos brasileiros (e até de alguns americanos) está em torno de 10x. Um eventual problema mais grave no sistema bancário alemão poderia contaminar o setor em toda a Europa, já combalida com o Brexit. Preocupante!
Outro fator de angústia de minha parte diz respeito às taxas de juros negativas, praticadas por bancos centrais. Semana passada, o BoJ (banco central do Japão) renovou sua disposição de trabalhar com preços (taxa de juro) negativos, além de sugerir que as taxas longas, de dez anos, “estacionem” em 0%. Tal movimento me leva a acender a luz amarela. O ritmo dos principais bancos centrais está dissonante, o que sugere que correções deverão ocorrer em breve.
Hora de cautela, lá fora. Minha expectativa é que o FED eleve sua taxa de juro em dezembro. Se todas esses “aflições” tornarem-se realidade ao mesmo tempo, a economia global se ressentirá fortemente e poderemos ressuscitar, infelizmente, a crise que pensávamos estar no retrovisor.