Entendendo o PIB: como esse indicador pode afetar a economia?
Na quinta-feira, dia 3, foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o PIB oficial de 2015. Como esperado, o resultado foi uma retração de 3,8% da economia brasileira, que até pode ser um alívio se considerarmos o previsto pelo IBC-BR, índice divulgado pelo Banco Central, considerado uma prévia do PIB, que indicava retração de 4,08%. Então, surgem algumas perguntas: você realmente sabe o que é o PIB, seu cálculo, composição e óticas? Sabe a diferença entre PIB e PNB? E finalmente, sabe por que um PIB negativo é tão oneroso?
O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de todos os bens e serviços produzidos por uma economia em determinado período de tempo. Pode ser analisado a partir de três óticas: oferta, demanda ou rendimentos. Cada uma tem seu método de cálculo e composição.
Começando pela ótica da oferta: aqui, o PIB é visto pelo lado das empresas que produzem e ofertam produtos e serviços ao público. Para se chegar ao resultado do PIB, a ótica da oferta considera o valor gerado por essas empresas. Vale ressaltar que é considerado apenas o valor dos produtos finais. Seria errado considerar o valor dos produtos intermediários, pois haveria uma dupla contagem de valores, que obviamente já estão embutidos no preço do produto final. Fica mais fácil com um exemplo: uma padaria precisa de farinha de trigo (bem intermediário) para produzir pães (o seu produto final), e no preço final desses pães o proprietário incluiu os custos com a farinha. Logo, o preço do pão inclui o valor da farinha mais um valor adicionado pela transformação da farinha em pão. Assim, o PIB pelo lado da oferta é calculado a partir do somatório dos valores acrescentados brutos (VAB) mais a diferença entre impostos e subsídios. Há ainda uma ponderação por setor, com a agropecuária representando 5%, indústria, 30% e empresas do setor de serviços, 65%.
A ótica da demanda é mais fácil de se compreender, pois calcula o PIB pelo lado das despesas. Sendo assim, observaremos o consumo das famílias, o consumo do governo e os investimentos das empresas para chegarmos ao resultado final. Além disso, devemos considerar o saldo da balança comercial (exportações menos importações), pois consumimos produtos que não foram produzidos no país, enquanto produtos nacionais são consumidos no exterior. [PIB = Consumo Privado + Investimentos + Gastos do Governo (Consumo Público) + (Exportações – Importações)]. Lembrando que o investimento considerado aqui não é aquele no mercado financeiro, e sim em Formação Bruta de Capital Fixo, ou seja, investimentos feitos por empresas a fim de aumentar sua capacidade produtiva, como máquinas e equipamentos. O resultado que encontraremos aqui deve ser exatamente igual ao encontrado através das duas outras óticas.
A última ótica calcula o PIB pelo lado do rendimento, considerando os rendimentos de fatores produtivos distribuídos pelas empresas, como trabalho. O cálculo é feito somando-se as remunerações do trabalho e o excedente bruto de exploração, ou seja, a soma dos rendimentos do trabalho e de outros fatores produtivos. É o ponto de vista mais complexo de se ver o PIB e, mesmo assim, alcançamos o mesmo resultado dos anteriores.
Uma questão que muitos não sabem é a diferença entre o Produto Interno Bruto e o Produto Nacional Bruto. A principal diferença é que o PNB considera os ganhos de empresas nacionais no exterior, ao mesmo tempo que subtrai os rendimentos de empresas estrangeiras em território nacional. É a chamada renda líquida enviada ao exterior. Países mais desenvolvidos, como os EUA, possuem um PNB maior que o PIB, pois muitas de suas empresas atuam em diversas nações, enquanto países emergentes geralmente possuem o PIB maior que o PNB, considerando que a maioria de suas empresas se restringe ao âmbito nacional ou possuem pouca atuação no exterior. Resumindo, o PNB abrange todos os bens e serviços produzidos por um país, seja em seu próprio território ou no exterior.
Agora que conhecemos o PIB com mais detalhes, podemos analisar os efeitos de um PIB negativo na economia de um país. Avaliando o PIB através de suas óticas podemos perceber seus efeitos. Por exemplo, o Brasil com um PIB de -3,8% em 2015 reflete esse resultado em altos níveis de desemprego, diversos setores em crise, maior nível de estoques das empresas, menor poder de compra da população, confiança do consumidor abalada, menor formação bruta de capital fixo, governo tentando reduzir gastos, níveis de produção mais baixos para se adequar à redução da demanda agregada e vários outros efeitos que podemos comprovar através de dados oficiais.
Tudo isso é importante porque, ao ler uma notícia econômica, pense como ela pode ter sido afetada e como afetará o Produto Interno Bruto do país.
Victor Firmino: Estudante de Economia do IBMEC. Membro da área de análise macroeconômica do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.