O Grau por um Fio
Moody’s também rebaixa nota do país
Poucos dias depois da Standard & Poor’s, ontem foi a vez de a agência de classificação de risco Moody’s rebaixar a nota do Brasil, de Baa2 para Baa3. Embora permaneça com grau de investimento e possa ganhar tempo com uma perspectiva estável, na prática o país está mais perto de perder este importante “selo”, conquistado após muito esforço.
Para que você possa entender melhor o mecanismo das agências de risco e o impacto das recentes decisões nos investimentos, reeditamos hoje trechos do post de José Antonio Rios, que foi ao ar originalmente no dia 29/07/2015.
O Grande Medo do Brasil
Estamos com uma economia decadente. Mas, o que acontece quando o resto do mundo fica formalmente avisado que estamos em decadência?
“Em minha opinião, hoje existem duas superpotências no mundo. Há os Estados Unidos e há a Moody’s Bond Rating Service. Os Estados Unidos destroem você jogando bombas (dropping bombs) e a Moody’s, reduzindo suas notas (downgrading bonds). E acredite-me que, por vezes, não é claro qual detém o maior poder.” Thomas Friedman, colunista do The New York Times.
Standard & Poor’s, Moody’s e Fitch são as principais empresas que calculam a capacidade de um país ou uma organização, seja ela privada ou pública, de honrar suas obrigações financeiras. Essas três grandes agências, provedoras de rating, são tão influentes que as notas emitidas por elas têm uma enorme capacidade de alterar fluxos de investimento sobre o local avaliado, seja uma organização ou um país. As empresas de rating influenciam e até controlam os investimentos internacionais.
O rating basicamente se divide em 2 tipos: Grau de Investimento e Grau Especulativo. O grau de investimento é concedido a organizações ou governos com um menor risco de crédito (risco de calote). O grau especulativo é dado aos que têm um maior risco de crédito. Dentro dessas duas principais categorias existem várias subclassificações. Na imagem abaixo, publicada pelo portal de notícias G1, pode-se entender como funcionam as escalas das três principais empresas provedoras de rating do mundo.
O Brasil se encontra na tênue linha entre o grau de investimento e o grau especulativo. Atualmente estamos classificados como BBB pela Fitch, Baa3 pela Moody’s e BBB- pela S&P, as duas últimas notas no limite do grau de investimento. A indicação da perspectiva negativa normalmente significa uma diminuição do rating na avaliação seguinte que tal agência de risco fará – no caso do Brasil, pode significar a perda do grau de investimento.
A recente redução da meta do superávit primário, de 1,1% para 0,15% do PIB, influenciou na avaliação das agências de rating. Isso ocorre pois, reduzindo o superávit primário, o Brasil não conseguirá evitar que a dívida líquida do setor público aumente. Significa uma menor capacidade do país para honrar empréstimos feitos, podendo resultar, assim, em uma diminuição do rating.
O baque que pode ocorrer
Uma eventual perda do grau de investimento seria extremamente prejudicial para o nosso país. O Brasil teria que pagar um bônus pelo risco do investidor estrangeiro de deixar seu capital aqui. Esse prêmio equivale ao que é necessário pagar a um investidor para que ele corra o risco de deixar seu dinheiro num país de grau especulativo, onde a probabilidade de uma desvalorização da moeda, ou até mesmo de um não pagamento da dívida, é bem maior.
No Brasil, essa compensação pelo risco muito provavelmente se traduziria em um aumento da Selic. Por conseguinte, depois de uma alta da taxa de juros, mais dinheiro ainda seria deslocado da economia real para os investimentos especulativos.
Um rebaixamento equivale a dizer para o mundo que o Brasil está em uma trajetória decrescente. Um país que já foi grau de investimento e agora é grau especulativo fica com a imagem extremamente negativa para o resto do mundo. O rebaixamento é o momento em que as agências de rating reconhecem formalmente a situação preocupante do Brasil, retirando do país o “certificado” de bom pagador.
Há quem diga que é melhor nunca ter tido um grau de investimento do que perdê-lo. A perda da chancela inibe novos investimentos externos, e o Brasil teria que fazer o possível e o impossível para manter o dinheiro dos investidores nacionais e internacionais ainda por aqui.