Como compor a sua carteira de ações.

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Direto ao ponto:

  • Primeiro passo é dimensionar o tamanho da carteira de ações, de acordo com o contexto pessoal do investidor.
  • A diversificação é uma das componentes primordiais que deve beneficiar a sua carteira.
  • Risco e preço estão intimamente relacionados.
  • O peso de um ativo em que você tenha alta convicção deverá ser maior.

Aqui no Brasil, juros é o assunto que mais pauta o mercado financeiro, e o momento agora é de queda. Queda nos juros e alta na bolsa – um cenário que já testemunhamos algumas vezes, e que se forma no horizonte hoje. Já tivemos a primeira pernada de alta ao longo dos meses de maio e junho deste ano, e aqui na Órama acreditamos que este movimento deve continuar conforme o Bacen materialize as quedas que o mercado já precifica.

A primeira pergunta que deve ser respondida é: eu quero ter o trabalho de montar uma carteira de ações? Muitos investidores não têm interesse pelo mundo dos investimentos e desejam apenas encontrar um lugar seguro e rentável para estacionar o recurso que auferem por outros meios. Para este investidor, fundos de investimento em ações podem ser um meio mais adequado de investir. Investindo no fundo, o investidor paga uma remuneração fixa e variável para o gestor do fundo (as taxas de administração e performance), que por sua vez presta o serviço de administrar o portfólio.

Uma outra solução que não envolve taxas é seguir as recomendações do analista. Aqui na Órama temos recomendações no mercado acionário para todos os gostos, desde as mais estáveis e pagadoras de dividendos até as mais voláteis. Fique ligado nas nossas recomendações.

Em paralelo, há também o investidor que se interessa pelo assunto e que deseja administrar o seu dinheiro pessoalmente. Este investidor decidiu que vai se inteirar do mercado acionário e montar a sua própria carteira. Aqui chegamos ao assunto principal: como podemos fazer para montar uma carteira de ações adequada para nos beneficiarmos do momento favorável da melhor forma possível?

1 – Tamanho

Antes de compor a nossa carteira, temos que definir qual o tamanho que desejamos que ela ocupe na nossa alocação total. Essa é uma decisão pessoal, que envolve fatores como idade, patrimônio, renda, perspectiva futura de gastos, e até mesmo fatores subjetivos como a aversão ao risco pessoal do investidor. Qualquer que seja o tamanho, é importante que seja determinado de antemão e rebalanceado ocasionalmente, para o investidor manter o seu risco sob controle. O investidor pode aumentar ou diminuir esta proporção conforme fique mais ou menos otimista em relação à perspectiva de curto prazo do mercado (12 a 24 meses), mas é importante que um plano de voo seja desenhado de antemão, para que se evite a tomada de decisões no calor do momento.

Uma vez determinado o tamanho, vamos ao assunto principal deste texto: a composição.

2 – Diversificação

Diversificação é como sal na comida: ela vai ficar ruim se você colocar pouco, e também se colocar demais. Se a sua intenção é se dedicar e encontrar bons investimentos no mercado, é importante que estes investimentos tenham um peso relevante na sua carteira, o suficiente para fazer a diferença na sua performance. O peso tem que ser pensado levando em consideração a volatilidade do ativo, a volatilidade que você deseja que a sua carteira tenha, e ainda o seu grau de convicção em relação àquele investimento.

Pessoalmente, eu gosto de trabalhar com algo entre 10 e 15 posições, cujos pesos podem variar de 3% até 15%.

É importante salientar também que a diversificação tem que ser feita entre ações mas também entre setores. Uma concentração muito grande em um setor pode expor a sua carteira a um risco setorial inadequado. É claro que a exposição setorial também é uma decisão de investimento, em que o aumento da exposição em setores com boa perspectiva de atividade faz sentido. Mas não se deve exagerar (um terço é um bom número máximo para exposição a um setor).

Posições com pesos menores

Ações mais voláteis

Ações com baixo grau de convicção

Posições com pesos maiores

Ações com volatilidade menor

Ações com alto grau de convicção

3 – Volatilidade

Volatilidade é o nome que se dá pra variação típica no preço de uma ação. Num dia normal de pregão, sem eventos, ficaremos surpresos em ver as ações da Weg subindo 4%. Em contrapartida, não nos surpreendemos de ver as ações da Azul subindo os mesmos 4%. As ações da Azul, portanto, são mais voláteis que as ações da Weg.

Grande parte do mercado usa medidas estatísticas para medir essa volatilidade, e consideram estas medidas como medidas de risco. Alguns exemplos são o coeficiente de variação, a correlação com o índice (chamado de beta) e o value at risk (var). Mas é importante entender que o caminho na realidade é inverso: é o risco do ativo (da ação) que origina um preço mais volátil, e não o contrário. E o ativo tem, não um somente, mas diversos riscos envolvidos. Riscos inerentes à atividade empresarial, como por exemplo o risco da empresa não conseguir pagar as suas dívidas. Risco das competidoras fazerem um trabalho melhor e levarem Market share. Risco do governo aumentar impostos, reduzindo o lucro da empresa. Risco de um acidente gravíssimo trazer perdas que se arrastam por anos no balanço. Estes, e outros riscos, devem ser levados em consideração na hora de comprar uma ação.

No nosso exemplo, a Weg ter uma baixa volatilidade no preço da ação significa que o mercado vê a empresa como menos arriscada. E por que motivo? Bem, a Weg tem um bloco de controle composto por fundadores de alta confiança no mercado, bem como executivos competentes que se provaram. A Weg compete internacionalmente com produtos industriais que tem uma percepção alta de qualidade. A Weg consegue manter margens operacionais altas e estáveis ao longo do tempo. A Weg desenvolveu patentes e processos produtivos difíceis de replicar, formando um diferencial contra a competição. A Weg mantém uma estrutura de capital extremamente conservadora, com endividamento baixíssimo. A Weg consegue crescer o seu negócio de forma consistente, aumentando a exposição a novos mercados de forma conservadora – e vem sendo bem sucedida nisso desde sempre.

E como se encontra a Azul? Bem, a Azul tem uma similaridade com a Weg – ela também tem um bloco de controle confiável, com um controlador extremamente bem sucedido e um corpo executivo super competente. Em contrapartida, o negócio de aviação é extremamente competido. Primeiramente, combustível e leasing são os maiores custos de uma linha aérea, o que significa que ela está muito exposta a dólar e ao petróleo. O cliente da Azul é um cliente sensível a preço, que geralmente se esforça para conseguir pagar menos e não se importa muito com nível de serviço. Os fornecedores da Azul são consolidados e tem muito poder de barganha. O negócio da Azul é altamente regulado, e com isso a empresa está sujeita a mudanças na regulação que podem impactar a lucratividade. A margem operacional da Azul (margem EBITDA) é extremamente volátil de um ano para o outro, variando entre 10% e 30%, mesmo desconsiderando o impacto do Covid. Internacionalmente, a Azul compete com linhas aéreas estatais, que estão dispostas a reduzir a sua lucratividade para aumentar o tráfego de turistas nos seus países. E, finalmente, o endividamento da Azul, que sempre foi alto, ficou particularmente crítico depois do Covid, atingindo o patamar de 23 bilhões de Reais (a empresa é avaliada a 6 bilhões de Reais na bolsa).

É importante salientar que a volatilidade funciona para os dois lados. Uma onda de pessimismo do mercado vai puxar para baixo a ação da Azul numa proporção muito maior que a da Weg? Com certeza. Mas uma onda de otimismo do mercado também vai puxar para cima a ação da Azul numa proporção muito maior que a da Weg.

Ações mais arriscadas exigem expectativas de retorno maiores. 20% de perspectiva de upside na Weg pode ser o suficiente, mas na Azul certamente não é. Talvez na Azul eu já vislumbre uma alta de 60%. E com isso, fica simples de calibrar a sua posição, pois você sabe que – usando o exemplo acima – eu preciso de uma posição três vezes menor na Azul para ter o mesmo impacto na performance da minha carteira. Como conversamos: quanto maior o risco, maior o retorno exigido e menor tem que ser a sua alocação na carteira.

4 – Convicção

Montar uma carteira de ações é discordar do mercado. Se eu compro uma ação é porque eu acho que ela vai subir – ou seja, o preço da ação hoje está errado. Não condiz com o fundamento econômico da empresa. Eu compro esperando que outros investidores mudarão de ideia e pensarão igual a mim no futuro, aumentando as suas posições e puxando o preço do papel para cima.

Em diferentes momentos, a sua convicção em diferentes cases será diferente. Ao montar a sua carteira você vai quantificar esta noção. Talvez eu invista 3% do portfólio em uma ação de uma empresa que eu acompanho e que parece estar num bom momento, com recuperação nos lucros e ambiente macro favorável. Já uma ação de uma empresa que eu venho acompanhando de perto a anos e tenho certeza que terá uma melhora substancial no lucro já nos próximos trimestres, e que ninguém vem falando no mercado, merece uma fatia maior no meu portfólio.

5 – Conclusão

Aqui na Órama estamos buscando, neste momento, posições em empresas com alta exposição a atividade econômica brasileira, líderes em seus setores, que na nossa concepção devem se beneficiar mais neste momento inicial de alta. Rede d’Or, Vivara e Arezzo são destaques. Conforme o ambiente vá melhorando com as quedas nas taxas de juros, pretendemos ajudar o portfólio para exposição maior em small caps e empresas em situação menos vantajosa.

Não deixe de acompanhar as nossas carteiras recomendadas. Um abraço e até a próxima.


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