As boas perspectivas para o agro brasileiro

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Direto ao ponto:

  • A Órama projeta que o PIB da Agropecuária (metodologia IBGE) deve crescer cerca 5,3% em 2023, vindo de uma redução da atividade de 1,7% em 2022. 
  • Fatores de oferta e demanda corroboram para essa visão positiva para o setor em 2023:
  • Pelo lado da demanda, um novo acordo assinado entre Brasil e China em novembro de 2022 passou a autorizar a exportação de milho para o país asiático, o que abre um mercado importante para o produtor brasileiro.
  • Além disso, o próprio governo chinês estabeleceu que a meta de crescimento do PIB está em cerca de 5%. Com o fim da política de Covid-Zero, a reabertura deve impulsionar ainda mais a economia que veio de 2022 com um crescimento de 3%.
  • A proximidade diplomática estratégica do governo Lula também pode trazer bons negócios. O agro manteve a sua programação na China, com progressos no restabelecimento da exportação de carne, mesmo com Lula adiando a sua visita ao país asiático em decorrência da pneumonia. 
  • Olhando pela ótica da oferta, é esperado que o 2023 seja um ano de safra recorde especialmente para milho e soja, principais commodities agrícolas brasileiras. 
  • A redução dos custos de insumos agrícolas, com certa normalização após a explosão de preços em 2022 com a Guerra na Ucrânia, ajuda o produtor rural a recompor margem.
  • E uma outra notícia positiva para o setor é que devemos ter um primeiro semestre com predomínio da neutralidade climática, sem a expectativa de ocorrência de eventos climáticos extremos. Na segunda metade do ano, o La Niña, que perdurou por 3 anos consecutivos causando estiagem prejudicando as safras anteriores, cede lugar para o El Niño que deve trazer mais umidade e um inverno menos rigoroso.
  • Com isso, podemos concluir que a combinação de uma aproximação brasileira com a China e do país asiático crescendo 5%, em um contexto de redução dos custos de insumos e melhores perspectivas para o clima, faz com que projetemos um crescimento de 5,3% para a agropecuária como abertura do PIB. A estimativas de safras recordes com o preço das commodities em patamares acima das médias históricas corroboram com o crescimento da cadeia do agronegócio como um todo.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou um estudo no dia 25 de março no qual estima um aumento 11,6% no valor adicionado (VA) da agropecuária neste ano de 2023. Já para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) a projeção é de uma alta de 8,5% para a abertura do Agro no PIB. De maneira conservadora e com viés de alta, na Órama trabalhamos com um crescimento de 5,3% para o setor em 2023. 

Parte importante dos bons números para o agro em 2023 é uma questão de comparação de bases. No ano passado, o valor adicionado pela agropecuária “dentro da porteira”, como calcula o IBGE no PIB, registrou recuo de 1,7%. É válido ressaltar que o peso desse setor no PIB, pelo IBGE, acaba sendo de aproximadamente 6% (70% é serviços e em torno de 24% é a contribuição da indústria).

Para buscar compreender melhor o impacto geral do agro na economia brasileira, o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) criaram o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio, englobando toda a cadeia produtiva “dentro e fora da porteira”. Ao incluir insumos, setor primário, agroindústria e agroserviços, o peso do agro para a atividade, sobe dos 6% do IBGE para próximo de 25%.

Por essa forma de cálculo mais abrangente, o PIB do agronegócio apresentou leve avanço de 0,34% no último trimestre de 2022, após ter recuado por três trimestres seguidos. Contudo, o desempenho do trimestre não foi suficiente para evitar a queda de 4,22% no acumulado do ano.

Nas duas metodologias de PIB, tanto a agropecuária quanto o agronegócio recuaram em 2022, influenciados principalmente pela forte alta dos custos com insumos, como fertilizantes, defensivos, combustíveis, sementes e outros. O avanço dos custos superou em grande medida o crescimento do faturamento, implicando na queda dos indicadores. 

Para 2023, vamos analisar separadamente fatores de demanda e oferta que embasam as boas perspectivas para o setor. Pelo lado da demanda, identificamos como chave a reabertura e o crescimento da economia chinesa. Pela oferta, a projeção de safras recordes, com redução do custo de fertilizantes e condições climáticas melhores, se compararmos com os anos anteriores, se somam a preços internacionais acima da média histórica.

Tabela 1: Abertura do PIB – 4° tri 2022 e projeções 2023

Var%QoQ2022Proj. 2023
Agropecuária 0,3-1,75,3
Indústria-0,31,60,3
Serviços0,24,20,7
PIB-0,22,90,9
Consumo das Famílias0,34,31,0
FBKF-1,11,51,7
Consumo do Governo0,30,90,6
Exportações3,55,52,5
Importações-1,90,83,0

Dados: IBGE. Elaboração: Órama Investimentos

Tabela 2: PIB do Agronegócio: taxa de variação acumulada (%) em 2022

Dados: Cepea/USP e CNA. Elaboração: Órama Investimentos

SEGURANÇA ALIMENTAR E A EXPORTAÇÃO DE MILHO PARA A CHINA

A segurança alimentar é uma das principais preocupações de qualquer governo na China, e não seria diferente com Xi Jinping. Com 1,4 bilhão de pessoas e tendo passado por diversos períodos de crises de fome severas, sendo a última entre 1958 e 1961, os políticos chineses sabem o potencial desestabilizador desse tipo de acontecimento, que obrigou o regime comunista a se reformular na década de 60. 

É nesse contexto que o Brasil, enquanto um grande exportador de alimentos, se torna um parceiro estratégico para o país asiático. Em novembro do ano passado essa parceria ganha contornos mais definidos com a assinatura de um acordo bilateral para a exportação de millho.

A China tem buscado diversificar as importações de milho, das quais cerca de 70% vieram dos EUA, e 30% da Ucrânia em 2022. Aumentar as compras do Brasil vem na esteira da interrupção da oferta ucraniana no mercado mundial devido à invasão da Rússia. Isso levou os chineses a comprarem mais dos EUA, em um momento também de tensão geopolítica entre os dois países.

Assim, a opção de abrir o enorme mercado chinês para o exportador brasileiro é uma alternativa mais segura e confiável.

A China foi, inclusive, o principal destino do milho brasileiro em dezembro de 2022 e janeiro de 2023. A CNA publicou uma projeção das exportações do Agronegócio brasileiro para a China de US$ 54,2 bilhões em 2023, 6,8% acima do ano anterior

Só nos últimos dois meses a China habilitou mais de 90 empresas brasileiras para exportação de milho, um sinal de que a demanda tende a seguir firme. Segundo o Ministério da Agricultura, a lista para exportar o produto ao país asiático totaliza 446 empresas brasileiras atualmente. No primeiro bimestre deste ano,  a China já foi o segundo principal destino do milho brasileiro, importando 1,1 milhão de toneladas, atrás apenas do Japão, com 1,5 milhão de toneladas.

O Brasil também ajudou a suprir a demanda de outros países que ficaram desabastecidos pelo milho ucraniano. Com a interrupção dos embarques, os chineses compraram mais milho americano, fazendo com que outros países, que antes compravam milho estadunidense, se voltassem para o milho brasileiro como uma das únicas opções no mercado.

CRESCIMENTO CHINÊS

O fim da política de Covid-Zero na virada do ano, com a reabertura da China deve permitir um crescimento em torno de 5%, de acordo com o próprio governo chinês, frente um crescimento de 3% em 2022. Com isso, é esperado um aumento do consumo geral no país asiático para este ano, inclusive de alimentos. 

Esse objetivo de PIB mais cauteloso, levanta a discussão sobre a qualidade do crescimento chinês. A ideia de que o governo não deve “pisar no acelerador a qualquer custo” é importante para a saúde da economia no médio prazo. Assim, a sustentabilidade do crescimento, sendo escolhida como um pilar, é positiva para o Brasil, uma vez que uma crise na China em um momento futuro poderia ser muito mais prejudicial.  

RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS NO NOVO GOVERNO 

Uma melhora nas relações diplomáticas entre os países também pode contribuir para aprofundar ainda mais os laços comerciais. A comitiva do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), já está na China desde o dia 20 de março e vai continuar com suas agendas mesmo com o presidente Lula tendo cancelado a sua visita, em decorrência do diagnóstico de pneumonia. 

Os resultados dessa independência da pauta agro estão sendo colhidos e já houve o anúncio da retomada das exportações de carne bovina brasileira para o país, após a constatação de que o caso de doença do mal da vaca louca encontrado era atípico. Principal empresa chinesa de investimentos no agronegócio brasileiro, a Cofco também recebeu os brasileiros em Pequim, e disse que pretende ampliar a parceria com o Brasil. As operações da Cofco no Brasil representaram a exportação de 33 milhões de toneladas de produtos, sendo que a empresa detém o quinto lugar nas exportações de milho, sexto em soja e sétimo em açúcar, com 7,2 mil funcionários no Brasil, o que representa 60% da força de trabalho da empresa fora da China. A Cofco está investindo cerca de US$ 300 milhões na reforma e ampliação do terminal arrematado no leilão do Porto de Santos para aumentar a capacidade de transporte de grãos. (Safras e Mercado)

PERSPECTIVAS DE SAFRAS RECORDES

O Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) de fevereiro de 2023, feito pelo IBGE, mostrou que a estimativa para a safra agrícola de grãos deste ano é de um aumento de 13,25% em relação à produção em 2022. A perspectiva é de safra recorde tanto para a soja, principal commodity brasileira, quanto para o milho.

Em relação à área plantada do grupo de Cereais, leguminosas e oleaginosas, espera-se um aumento de 3,08% comparativamente ao ano passado, totalizando 75 milhões de hectares. Para a área total dos itens da pesquisa, a estimativa é que cresça 2,72%, para 90 milhões de hectares. 

Olhando para a área colhida, o levantamento antecipa um aumento de 3,11% do total e de 3,53% para o grupo. Em hectares, isso representa uma área de 90 e 75 milhões, respectivamente.

O arroz, o milho e a soja, os três principais produtos do grupo, somados, equivalem a 92,8% da estimativa da produção de grãos no ano e respondem por 87,6% da área a ser colhida.

REDUÇÃO DOS PREÇOS DOS FERTILIZANTES: 

Os fertilizantes são um custo importante para a agricultura. Olhando pela metodologia do Cepea, a indústria de fertilizantes e corretivos de solo apresentou crescimento de 24,82% do seu faturamento anual frente a 2021. Este desempenho reflete a expressiva alta de 40,78% dos preços reais dos produtos, haja vista a redução de 11,34% da produção anual. 

O Cloreto de Potássio (KCl), por exemplo, custava US$ 250,00 por tonelada em janeiro de 2021. Já em 2022, ele alcançou US$ 780,00 por tonelada. Houve uma estabilização, mas o valor ainda permaneceu alto, com a tonelada do KCl custando US$ 460,00 em meados de março de 2023. Em reais, o preço do Cloreto de Potássio foi de R$ 4.430,40 (na cotação do dia 06/01/2022) e R$ 2.433,40 (na cotação do dia 23/03/2023). 

É importante ressaltar que a compra de fertilizantes acontece com antecedência em relação à safra em si e a distribuição do volume adquirido entre os meses varia de acordo com a perspectiva para os preços.

Para a safra de soja 2022/23, por exemplo, as negociações tiveram início em agosto de 2021. Até o começo dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, em fevereiro de 2022, os produtores brasileiros já haviam adquirido quase 50% dos fertilizantes necessários para as lavouras, em média. Naquele momento, os preços apresentavam uma tendência de recuo ante os meses anteriores, mas a situação foi revertida com a invasão. Os produtores correram para garantir os insumos e a logística necessária para a safra. Com isso, os preços explodiram. Porém, em junho de 2022, os preços voltaram a cair.

Para a safra 2023/24, a comercialização dos insumos da safra de soja está em 5% na média Brasil pelas praças acompanhadas pelo Campo Futuro. Para o milho verão, a comercialização está em 4,1%. As compras estão um pouco mais atrasadas comparadas ao ano anterior, devido à atual queda dos preços. Os produtores buscam preços ainda melhores, porém é uma disputa contra o relógio e nos próximos meses ele terão que adquirir esses insumos, aquecendo o comércio do segmento.

CLIMA: SE NÃO AJUDAR, PELO MENOS NÃO ATRAPALHA

Outro fator que influencia a produção agrícola é o clima e, neste mês de março, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) divulgou o término do La Niña, que durou aproximadamente 3 anos. A perspectiva de neutralidade e El Niño para o segundo semestre também corroboram para as boas projeções para a safra de 2023. 

Nos últimos três anos, o Pacífico esteve sob influência do fenômeno La Niña, que se caracteriza por  provocar uma redução significativa das chuvas no Sul do Brasil. A estiagem em uma região produtora importante comprometeu as safras de grãos, por períodos consecutivos. Além disso, o La Niña gerou ondas de frio intensas, duradouras e abrangentes no centro-sul do Brasil no outono e inverno. Foram diversas geadas que atingiram áreas produtoras não só no Sul, mas também no Sudeste e no Centro-Oeste.

No dia 09 de março, a NOAA divulgou oficialmente o término do fenômeno La Niña. Segundo as últimas projeções a neutralidade climática vai persistir durante o outono de 2023, tendo início no dia 20 de março e término em 21 de junho e o principal impacto disso seria a diminuição do risco da chegada de um frio precoce. Ou seja, deve retardar a chegada das primeiras ondas de frio nesse ano, reduzir a chance de um frio extremo e o risco para geadas fortes e abrangentes nas lavouras. Ao que tudo indica, teremos um outono mais quente comparado aos últimos três anos.

O gráfico abaixo aponta para as probabilidades de ocorrência das fases do fenômeno climático conhecido como El Niño–Southern Oscillation (ENSO) para os trimestres sobrepostos (fevereiro-março-abril, março-abril-maio, etc.).

Fonte: Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA)

É importante entender que o ENSO  é um único fenômeno que possui três fases: duas opostas, “El Niño” e “La Niña”, que implicam em mudanças tanto na temperatura do oceano quanto na atmosfera e o “Neutro” que está no meio desse continuum.

  • El Niño: há um aquecimento da superfície do oceano, com temperaturas acima da média no Oceano Pacífico tropical central e oriental. A precipitação tende aumentar sobre o Oceano Pacífico tropical. Os ventos que normalmente sopram de leste a oeste ao longo do equador (“ventos de leste”), enfraquecem ou, em alguns casos, começam a soprar na outra direção (de oeste para leste ou “ventos de oeste”).
  • La Niña: há um resfriamento da superfície do oceano, com temperaturas abaixo da média da no Oceano Pacífico tropical central e oriental. A precipitação diminui sobre o Oceano Pacífico tropical central. Os ventos normais de leste ao longo do equador tornam-se ainda mais fortes.
  • Neutro: significa que nem as condições de El Niño nem La Niña estão presentes no oceano e na atmosfera. Por vezes, “neutro” significa genuinamente que as condições no oceano e na atmosfera estão próximas da média. Mas outras, as condições para El Niño ou La Niña foram realmente encontradas no oceano, mas não na atmosfera. Este estado também é considerado neutro porque, a menos que o oceano e a atmosfera estejam totalmente sincronizados , o ENSO não pode atingir todo o seu potencial de perturbação do clima. 

Após o período de neutralidade do Oceano Pacífico, as chances do retorno de um El Niño durante o segundo semestre deste ano aumentam.Sendo assim, seguindo os padrões de El Niño, são esperados os seguintes cenários:

  • A chuva não vai atrasar e as temperaturas seguirão elevadas no Brasil Central, considerando áreas produtoras em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e Minas Gerais;
  • Um clima mais úmido deve se instalar na região Sul, com destaque para o Rio Grande do Sul que só assim terá uma reversão por completo em seu déficit hídrico provocado pela La Niña, sendo favorável para sua próxima safra verão 2023/24;
  • E por fim, com o El Niño instalado durante o segundo semestre deste ano, a próxima safra de verão no MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) corre grandes riscos de passar por uma estiagem.

Se por um lado a expectativa é de um inverno menos rigoroso, por outro, o alerta fica para a possibilidade de maior ocorrência de chuva no período da colheita. As chuvas podem não trazer grandes impactos sobre a quantidade produzida, mas afetam a qualidade, a exemplo do que aconteceu no Paraná esse ano. Mesmo assim, no comparativo com anos anteriores, as projeções para as safras das principais culturas brasileiras continuam com boas perspectivas. 

BÔNUS: PREÇOS ACIMA DAS MÉDIAS HISTÓRICAS 

Por último, é válido notar que os preços das principais commodities do agro brasileiro estão sendo negociados em patamares bastante superiores às suas médias históricas.

CONCLUSÃO

A combinação de uma aproximação brasileira com a China e do país asiático crescendo 5%, em um contexto de redução dos custos de insumos e melhores perspectivas para o clima, faz com que projetemos um crescimento de 5,3% para a agropecuária como abertura do PIB. A estimativas de safras recordes com o preço das commodities em patamares acima das médias históricas corroboram com o crescimento da cadeia do agronegócio como um todo. 

Este material foi elaborado pela Órama DTVM S.A.. Este material não é uma recomendação e não pode ser considerado como tal. Recomendamos o preenchimento do seu perfil de investidor antes da realização de investimentos, bem como que entre em contato com seu assessor para orientação com base em suas características e objetivos pessoais. Investimentos nos mercados financeiros e de capitais estão sujeitos a riscos de perda superior ao valor total do capital investido. Este material tem propósito meramente informativo. A Órama não se responsabiliza por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base nas informações aqui divulgadas. As informações deste material estão atualizadas até 28/03/2023. 

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